sábado, 13 de agosto de 2011

A Busca



Havia uma grande empreitada pela frente, uma inadiável busca a um ser singular.
Diante da porta de casa percebi o quanto eu estava sem reflexo para todo e qualquer enfrentamento que dissesse respeito ao mundo real...Fazia muito tempo que não ia para a linha de frente de uma batalha. A primeira sensação fora a de que estava ficando medrosa! Relutava a tal adjetivo esmagador,e me pus a refletir por horas a fio as características mais nobres da corajosa que, eu acreditava ainda existir em mim, a destemida que sempre matara baratas em saltos mirabolantes, esmagando-as ora com os pés e em outras bravamente com as mãos. Que subia escadas. Que já escalara janelas até o terceiro andar. A que podia varar um dia de trabalho sem comer e ainda entendia de motores automotivos. Me deparei com a lembrança mais remota de coragem: andar no escuro, dormir no breu total e não temer o bicho papão...Agora estática eu me perguntava onde estaria esta criatura? Antes de encontrar-me com aqueles olhos estonteantes novamente, precisava reencontrar com a corajosa que eu sabia estava adormecida em algum canto de mim mesma...
Tremia agora,
vacilava diante dos desafios ao desconhecido!
Inerte!

A única segurança é que eu tinha uma força maior que me fazia vencer o vazio.
Há um vácuo que antecede toda busca!E era justamente nele que eu me encontrava...
Como faria para ter coragem de abandonar o posto de solitária e deixar para trás o meu organizado mundinho particular de nome bolha, ou casa, tanto faz...
Aquele esconderijo paradisíaco e ininteligível que construira para mim?

Aos pés o mundo se abria sorridente...

"Mundo aí vou eu! Mais uma vez aí vou eu ..."

Vislumbrar as curvas que haviam na estrada me secava a boca...
Eu tinha uma certa implicância com as curvas...
fossem do caminho ou do corpo...
As batidas descompassadas do meu coração
ditavam em cada um de meus pensamentos uma só vontade...
a da busca...
a do encontro!

"Como procurá-lo neste palheiro de nome mundo?"

A sensação era que eu tinha encontrado a chave da arca perdida e jogado no lixo...
Dizer o que de minha atitude?
Nada dizer...
Melhor deixar a alma falar o que não tem palavras...

Sinceridade naquele instante era a de mais uma vez assurmir a realidade:

-bolsos vazios;
-coração e pensamentos cheios.

Eu tinha uma imaginação!!! Agora bastava-me torná-la real...

O homem dos olhos extasiantes da cor do do céu, fazia todo o sentido em mim...
Seus olhos ecoavam sempre na minha alma...
Com o pensamento nele, vinha a lembrança que a verdadeira paixão nunca fica indiferente...
Se o que me movia agora era um sentimento puro e verdadeiro de fato, sabia que eu o reencontraria frente a frente o mais breve possível...

Mas em mim ainda faltava a ação ...
(sempre o mas...ou o talvez e algumas vezes o etc...)
uma fração de segundos que me detive...e pronto...
Alguns momentos para pensar:

"Que luz era esta que me movia? Que força? Que poder? Era minha ou era dele?"

Ou seria apenas uma força estranha inerente ao olhar de todos
e que uma vez a cada século ocorre para estontear alguém,
que deixa o lado banal do cotidiano de lado,
para mergulhar na doçura e na profundeza que existe na alma humana
e que só encontra-se no espelho de nome olhar...??????????????????????????

Como saber???

Antes de dar o passo em direção a investigação que me levaria ao seu paradeiro,
me detive ainda em longa pausa...recostada no batente da porta...
Por um longo tempo admirei a paisagem que ficava ali emoldurada...
Quanto romantismo havia no cotidiano que me rodeava e eu nunca percebera...
A vista ao longe das montanhas, o lago, os cisnes imponentes, os patos desengonçados
e ao fundo os bambus dançavam com a brisa como se fossem o reflexo de meus pensamentos.

Sim, eu me detinha ali no desejo de fazer com que meus olhos se despedissem daquela obra de arte que eu pouco observara, daquela poesia bucólica que só agora ganhava cor...
Sabia que era questão de tempo,
a certeza: eu nunca mais a veria!
Ainda que voltasse mil vezes ali, jamais caberia em si toda aquela essência poética...
Só agora, ao me deter na vista do batente da porta, percebia as mudanças que viriam!
Minha vida sempre fora assim, meus olhos tinham o hábito de prever as inevitáveis despedidas... Como se estas, antecipadamente se impusessem, intercalando-se ao recheio dos dias...

Não me enganava nunca!
Sabia enxergar o signo do Adeus dissimulado na imposição cotidiana do belo!
Decidi não resistir a vontade de, sem sofrimento, apenas admirar aquele pedaço da realidade que começava a escoar daquela página de minha vida!

A noite chegou pouco a pouco e embora pensasse no lindo homem dos olhos estonteantes, que a todo custo queria encontrar, mergulhei na lembrança do meu último reveillon... quando eu também me detivera por horas a fio ali naquele mesmo lugar: a moldura do batente da porta!
E tanta coisa passou em meu pensamento, desde os tímidos e distantes fogos de artifício, que eu solitária e muda observara da janela da cozinha, até os batimentos cardíacos descompassados de meus mais nobres desejos.Lembrei do silêncio que havia em mim enquanto eles explodiam no céu, em cores infinitas. De pronto me veio a lembrança do cigarro que fumara, sem quê nem porque, como se a fumaça tivesse naquele instante a capacidade de me preencher. Relembrei então dos sonhos e sensações que tivera naquela noite: as coisas que com todo o meu ser clamara aos céus em companhia do silêncio, do ar úmido, da fumaça tragada desajeitadamente... Do cheiro forte que não fazia parte do meu cotidiano.

Por que estaria agora lembrando daquilo?

Por que é que eu teria fumado aquela bituca de cigarro ali diante daquela paisagem metafísica?

Eu era uma idiota e estava só!

Sempre fora solitária mesmo na infância, quando mesmo em meio a um bando de crianças, sempre dava um jeito de me desvencilhar dos demais, ou fazer calá-los...
Eu "a exigente", e volta e meia "demente"...
Sim, certa vez um homem segurando forte a minha mão fez eu crer nisto!
E também que eu era convencida, difícel e nojenta...

Eu devia ser mesmo...
se não fosse, não estaria ali solitária com a lembrança da fumaça do cigarro de palha
numa das noites mais importantes do ano...


O hábito de fumar nas noites de reveillon eu herdara do marido de minha tia,
que desde sempre chamara de tio...
Nas festas mais especiais, com seu delicioso sotaque italiano,
falava besteiras que quase ninguém compreendia, e depois distribuia cigarros ou charutos:

" para expulsar os demônios"
dizia ele.

E sempre funcionava! A mim sempre parecia uma forma de meditar, como num ritual sagrado, fazer que a fumaça do cigarro tivesse a capacidade que os pedidos mais rápidos e poéticos alcançassem os céus...E naquela noite passada de minhas lembranças, enquanto fumara a bituca do cigarro amarguento, pedia aos céus um sem fim de coisas!

Pensava em tanta gente,
e era a única data em que as lembranças tinham verdadeiramente o poder de mesclar-se ao futuro...

desejos e momentos fundiam-se numa coisa só,
e era como se eu tivesse o poder de relembrar fatos que ainda não tinham acontecido.

Naquela noite,
em meus pensamentos
meu olhar deteve-se, ainda que brevemente,
no olhar magnético daquele que agora representava minha busca...

Era como se a lembrança do tio
se fundisse um pouco com a imagem do homem dos olhos estonteantes...

Meus olhos agora pesavam tanto de sono,
como haviam pesado na noite de reveillon...
e mais uma vez não resisti ao sono,
nem ao sonho...

e antes de partir adormeci...

como na noite do reveillon...
como em tantas outras noites...
como nos natáis de minha infância ...

ou
como
nas noites que adormecia diante do computador
exatamente como faço neste instante...

Sensação de dormir antes da hora da festa...

...o sono...o medo ... a coragem...e tantas outras coisas que não tenho palavras para descrever...
a busca...
e tudo mais ...contidos ali ...
...no batente da porta...


Não era porque me detinha ali que desistiria de buscá-lo...

Meus olhos fechavam-se...
isto não impedia minha busca!
Ainda que estivesse de olhos fechados
e estática...
eu seguiria
buscando-o...


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A BUSCA CONTINUA os DEVANEIOS TAMBÉM!!!
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Este devaneio está ligado intimamente ao post anterior:

8- Vasculhando os arquivos de meu íntimo


Link
Que por sua vez faz parte de uma série de devaneios:

1-Peraí Link

2- Atualização

3-Bolsa de mão

4-Grito Suspenso no ar

5-Bolhas de Sabão

6-Infinitos Pontos

7-Farol na Escuridão



Fique a vontade para lê-los na ordem que bem entender!

AQUELE ABRAÇO!!!



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vasculhando os arquivos de meu íntimo


E depois dos olhos me fitando, sem fim...tantas coisas boas...

Até que um dia ao amanhecer, não consegui carregar a página de minha vida em que se encontravam os olhos daquele ser, que entrara de forma surpreendente, fascinante e inusitada no meu perturbado cotidiano.

Com minha incerteza, pipocavam na alma, infinitas dúvidas, de todas as espécies.

Primeiro pensei que ele pudesse ser um ilusão virtual de minha já atrapalhada mente...e acabei me dedicando a vasculhar arquivos em que sua imagem, suas palavras e todo o indício de sua existência me confirmassem sua veracidade. Me confirmassem que ele era real, e não apenas virtual. Que ele era também de carne, osso, pele e perfume, e não apenas olhos estonteantes, voz inebriante...

Vasculhei as palavras que havia recebido dele, como quem investiga um crime perfeito. E depois disto li as entrelinhas, dele e as minhas, e tudo de novo, uma, duas, três, mil, vezes...Chequei cada milímetro de suas imagens...toda a possível subjetividade de suas expressões...e repeti, em grande tiragem, no meu pensamento, cópias e mais cópias das mais fortes lembranças que tinha dele: a mais remota, as primeiras palavras, as que mais me balançavam. Repetia sua voz no meu ouvido, como quem escuta insistentemente a mesma canção...

Meus olhos repetiam, como num filme cada gesto, cada um de seus movimentos...

O forte olhar...

a boca num sorriso safado do lado direito...

Desenhei seus cabelos diante de meu olhar N vezes, e pensei , nas loucuras que lhe dissera...

Como de praxe, pus a culpa nelas, nas loucuras...só não sabia se de fato havia errado: por expô-las ou por guardá-las...

Depois me detive em pensar em sua panturrilhas, e no instinto de tê-lo de volta, pelo menos ao alcance de meu olhar, imaginava-me mordendo-as...e isto eu nunca lhe dissera...

...e se eu não tivesse mais oportunidade de lhe ver?

...e se ele nunca tivesse existido?

...e se ele não fosse nada daquilo que eu enxergara?

...e se minhas, suas, nossas loucuras jamais se realizassem?

Ele era já parte de mim...

Independente de voltar a aparecer no meu mundo virtual ou de um dia surgir respirando, naquilo que chamamos de realidade!

Ele não sabia (eu acho), mas havia adquirido a capacidade de fazer meus sentimentos bailarem como a maior e mais brilhante estrela no mais alto e colorido céu .

E o meu maior medo agora era o de descobrir que ele não existia na tela do mundo real como eu o percebia na tela de meu mundo virtual.

Que ele não fosse a obra de arte que eu pintava na tela de minhas insanas e surreais íntimas idéias...

Algo acontecera, e mais uma vez eu acreditava que a culpa era minha...ele não podia ficar unknow justo naquele momento, e eu não podia perder o sinal daquele ser...perder a luz do seu olhar era me perder de vez, mais uma vez...

... se fosse preciso eu vasculharia o mundo para reencontrá-lo...


CONTINUA COM CERTEZA


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Este devaneio está intimamente ligado ao post anterior:

7-Farol na Escuridão

Que por sua vez faz parte de uma série de devaneios:

1-Peraí Link

2- Atualização

3-Bolsa de mão

4-Grito Suspenso no ar

5-Bolhas de Sabão

6-Infinitos Pontos