quarta-feira, 23 de março de 2011

Peraí


Outro dia,
como sempre,
todas as coisas
aconteceram outro dia,
com um amigo, amiga ou pessoa que conheci.

Ele olhou nos meus olhos.

Eu estava submersa numa das tantas e tantas reflexões que me proponho, como quem navega na internet, abria mais uma janela no navegador de mim mesma para buscar explicações e justificativas.

Ele disse que eu não existia.

E enquanto ele falava isto, me punha a divagar, que realmente, eu não posso existir!
Mas ele, ele existe? Decidi lhe perguntar!

Foi quando sua irmã apareceu, do nada, como alguém com super poderes inexplicáveis que descia de uma nave espacial ali diante de mim.

"-Oi eu sou a irmã dele! "

Choque!

Mas ele estava aqui, não pode ser, pensei para mim mesma, enquanto sorria para não parecer deselegante. A simpática garota também sorriu, (quase com o sorriso dele - se não fosse aquele nariz operado e as madeixas longas) e parecendo bem educada falou:

"-Estou falando com ele, ao telefone. Você quer mandar algum recado? "

"- Recado... ? "

Poxa vivemos no século XXI, internet, I-pod, celular, o homem já chegou na lua há muito tempo... Existe TV digital Full HD

e segue a existir a distância ...

O recado?

O que eu podia dizer para não parecer fútil, indelicada, arrogante, louca?
Tinha que saber onde ele estava, ele não podia sumir assim sem mais nem menos da minha frente, do meu campo de visão. Fosse o meu campo de visão uma alucinação, um pensamento, ou uma percepção doentia de minhas já insanas idéias.

A garota percebendo meu repentino silêncio decidiu falar.

"- Ele está na estrada."

Sorri e resolvi entrar no jogo dela, ou dele, sei lá.
Se ele de fato, estava falando comigo através da irmã, com toda a tecnologia existente neste mundo redondo de Deus, é por queria se comunicar. Quanto a mim só faria isto em total desespero.
Ou seria o contrário? Ele não queria falar comigo. Queria se livrar e inventou uma forma de ilusionismo repentino para surgir ali diante de mim como irmã.

Despretensiosamente eu disse:

"- Ele está indo para o sul? "

Perguntei de forma ingênua. Esboçando um sorrisinho amarelado nos lábios, daqueles que por mais esperta que seja a pessoa que o recebe sempre vai tocá-la com doçura.

A sensação eu já tinha passado, por sinal, por causa dele, ou com ele, certa vez.
Sentimento de ser pego desnudo.
E de não ter palavars para explicar o motivo.

"- Não para São Paulo. "

falou a Branca de Neve diante de mim...
Sim ela era a Branca de Neve..
a voz dela era de Branca de Neve...
mesmo não conseguindo definir ao certo a tonalidade de sua voz...
era como se eu não a visse,
não a ouvisse,
numa sutil leitura de lábios entendia tudo,
sem entender mais nada.

eu já ia balbuciar algumas palavras a respeito de trabalho, para disfarçar o meu real intuito. E o quanto me sentia desconcertada em meio de tal saia justa, quando ele surgiu!

Me segurou pelos ombros de uma forma estranha
e deliciosa... Depois me pegou pela mão e disse:

"-Vem até o elevador! "

Fiquei surpresa:

" -Elevador? Para que? "

Não podia ser ele.
Era ela na aparência dele.
Me chamou de maneira estranha e se pôs a rir.
Instigou minha paranóia
me deixando perdida
subi no elevador com ele
mas ao entrar subíamos escadas
correndo
num ritmo frenético
quase como uma dança.
Eu corria atrás dele fazendo perguntas,
para ter a segurança de que era ele,
de que não era algum atentado arquitetado
por quem geralmente arquiteta coisas por ofício.

Ele respondia errado
Ele dizia coisas
e falava meu nome
com letras e sílabas trocadas

Parei de súbito!

"Chega, peste!
Chega!
Virose doentia!
Vício."

Comecei a quebrar tudo,
pelo menos esta é a sensação que tenho.

Foi quando ele parou e lentamente falou comigo.


Nesta hora eu tive certeza que era ele.

Disse que eu tinha que confiar mais nas pessoas.

Mas como?
Como?

Falei besteira
e mais besteiras
derramei meu ser

ali nos pés dele



que pouco a pouco sumia


como numa tela de computador


que desliga-se lentamente

como slide
que se desfaz
para que outro apareça






olhei para o próximo slide




tantas coisas
risadas
soltas
passeio a beira mar
poesia quase cinematográfica


ruídos


só percebi
que ele dizia

peraí

e disse de novo

e se não me engano
antes que a imagem dele sumisse
novamente sem explicação

ainda percebi que seus lábios como num beijo
me diziam

PE RA Í

segui falando com a outra imagem que surgira,
não no lugar dele
mas do outro lado
da tela de mim mesma

era de um homem gigante
quase um bárbaro
que chorava como criança


quando olhei de novo
ele tinha desaparecido
mas o som de sua voz ainda permanecia

PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ PERAÍ

tinha muitas opções e caminhos a tomar naquele dia
mas optei por seguir o conselho dele

e acreditar no que ele disse

acreditar nas pessoas

e por isto
estou aqui
em mais uma
espera bela e terrível

e na dúvida
se ele de fato é uma pessoa

por que se não for
me isenta da espera
e de toda a confiança que por nossas loucuras
me permito depositar nele.

o celular tocou e eu me perdi
não vi mais nada nem ninguém
apenas
pude sentir na pele a dúvida de uma espera





Peraí











______________________________________

Continua



...







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