domingo, 12 de junho de 2011

Bolhas de Sabão


Sim, muitas bolhas...

A queda parecia me fazer flutuar agora...como bolha de sabão, e no meio de bolhas de sabão...os tombos tem sua poesia, pensava eu durante a queda livre ... foi quando me deu uma lucidez descompassada...

caio de costas ou de cara?

De costas fico paraplégica de cara desdentada...

de braços abertos...sim

assim se alguém decidir me amparar aproveito para um longo abraço...


Estava em queda , mas não caía ...descia por entre as bolhas de sabão coloridas...e achei que aquele mundo ensaboado era infinito quando lá de cima pude avistar o meu quarto... o computador, a cama...

ah a cama...vista assim a distância parecia tão deliciosa...

Eu havia cochilado além da conta... só podia... a espuma de sabão da máquina escorria pelo tanque, pela casa, pelo quarto por tudo...chegava até o descanso de tela do computador... e cada bolha gritava com a voz do outdoor...Eu amava aquela voz do outdoor, na verdade eu era nevralgicamente apaixonada pelos lábios do outdoor, e certamente por seu dono... só agora eu percebia...(acho) sim eu agora estava certa, embora toda certeza de amor é sempre dúvida e toda dúvida de amor sempre venha prenhe de uma certeza...

Amar como se as bolhas de sabão fossem corações que saiam de dentro de mim...e de fora e de tudo e me envolvessem e me fizessem flutuar e delirar...

De quem era aquela voz?

Quem era aquele ser ? ou não era?

Ah bolhas do descanso de tela...

Diante de meu delírio encontrei em uma das bolhas, os lábios...a boca...

Sim eu agora estava lúcida e sabia que eu já beijara aquela boca , senão não teria explicação toda aquela fixação...ainda se fossem lábios carnudos estaria explicado , mas não eram... o desejo, o sabor, estava mais nas palavras que saiam dela, da boca, que de sua forma... pelo menos eu pensava assim naquele momento...

a bolha estourou diante dos meus olhos ...a boca...e pronto...ouvi:

“te quero sempre bem”

E depois daquela bolha todas as outras a seguiram como num coro...

Estourando e dizendo

"Te quero sempre bem..."

"Te quero sempre bem..."

TE

Quero


Se me quer não vai ser longe

Se me quer...quer sempre...

Quer cotidano

Se me quer bem ...

Me quer perto!

será?

Mas poderia me querer sempre bem para eximir-se de minha presença, me querer bem longe isto sim ...

Mas aí não me quereria...

Ah bolhas de imaginação, de queda e de ascensão...

Vou explodir tudo para ver o que pode sair de dentro de cada uma delas...

E a outra bolha disse...

“sei que me queres bem também”

Quero quero quero quero quero quero

sístole diástole sístole diástole sístole diástole

Quando eu ia dizer que o queria como um vício . Que quereria sempre... surgiu uma abelha, a abelhinha...e foi estourando as bolhas uma a uma com seu afiado ferrão...

Estranho é que a abelhinha tinha a cara da irmã dele...mas naquele instante, entre queda e sabão, tive certeza que a abelha, agora prestes a ser rainha, não era irmã, nunca fora...

E assim todas as bolhas sumiram...

Junto com os lábios de outdoor e a abelha!


O descanso de tela da minha realidade havia cessado...


E com ele o meu direito momentâneo a sonhar.

O direito de transformar sonhos em realidade transferidos para data indefinida...

“Agenda lotada!”

A voz falou isto...e simplesmente me esqueceu...

Sim eu ouvi estas palavras sair de dentro de uma das últimas bolhas daquele dia...

Balde de água fria...

Odiava ser esquecida...me insulte mas não me esqueça, não me ignore...este sempre fora meu lema.

Vou escalar de novo... quero ver se na próxima queda encontro tantas bolhas assim para me esbaldar...

Foi quando percebi que eu não enxergava paredão, ou muro algum...

Lá embaixo tudo era verde...

E havia um arbusto, um coqueiro e vez ou outra um passarinho...

Desespero!!! Eu ia cair...

Pensei nos lábios do outdoor pela última vez...e ali no meio da queda tive a certeza que nada era mais prudente que esquecê-los...Mas pensar em que ora?

(se pelo menos surgisse um gigante para me amparar)

Como esquecer, algo que vinha perseguindo meu ser há tempos...

(um anjo, um arcanjo, um ser surreal...)

Lembrei da infância, quando em cima do muro que escalava com meu irmão até o terraço da casa do vizinho. Ele, meu irmão, segurando firmemente minha mão dizia: “Não olha para baixo! Olha para cima!”

E foi o que fiz naquele dia, no momento que as bolhas de sabão cessaram, no meio da queda livre...olhei não para o chão, mas para o céu...

Ah o céu... que delícia era naquele momento de queda...ter um céu inteiro assim só para mim...

E eu naquele instante, a estrela de todo aquele céu!!!

A cor do céu me trouxe a lembrança de dois olhos...

E no meio da queda quando esperava o beijo enviado por um beija flor errante...

Vendo o céu senti que em breve eu veria um passarinho azul...

muito em breve

Ah pássaros azuis...

Ah bolhas

Ah o céu

Agora as bolhas não estavam mais fora, voando suaves na direção da brisa...Nem percebi que diante daquele entusiasmo todo eu acabara presa dentro de uma bolha...

E o primeiro instinto foi o de sair dali...

Gritar

“Ei...me deixa sair...”

"Ei ei...

Me escuta!"

Gritei!

(ao longe ouvia-se um funk...som de carro de namorado alienado estacionado na porta da casa da namorada imbecil ... num daqueles entediantes churrascos de domingo...)

Percebi que os pássaros saíram em revoada...e com o vôo deles lá se foi, pelo menos momentaneamente a oportunidade de ver o pássaro azul, fazer meu pedido...e encontrar o que eu não sei se perdi...


Para onde esta bolha vai me levar???


Clamei por chuva para que pudesse logo por os pés no chão...tarde demais...

eu estava voando céu a fora...e tudo que me vinha em mente era, não mais os lábios de outdoor, mas olhos do tamanho e da cor daquele vasto céu, pela qual eu era transportada, olhos imensos e azuis...E assim enquanto flutuava na bolha de sabão, me senti uma estrela brilhante...e passei dia e noite a sonhar com o dono daqueles olhos...

Sim eu precisava urgente falar com ele...

...mas não sabia para onde a bolha me levaria...


a bolha flutuava

eu lá dentro

e bem longe

batucando infernalmente nas minhas já tontas idéias

a buzina do carro do namorado de não sei quem

e um som

crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew crew


Sim nem flutuando no céu se está em paz e isento das coisas que não tem remédio e nunca terão...


mas e os olhos???

perdiam-se no nevoeiro espesso

diante do crew, buzinas, sonhos,

expectativas indevidas

(como me disse um dia um pintor)

eu já não tinha certeza de sua cor...

quase adormeci flutuando

mas...estava nas alturas...

liguei o piloto automático

para o aguardo da inevitável queda...

se o sistema de áudio da bolha funcionar...

um dia a caixa preta de mim mesma pode vir à tona

e com ela virão não apenas as alucinações de fim de outono

mas bem mais que meus torpes

sonhos impossíveis


ah utopias utopias utopias


ah bolhas de sabão


ah fontes de inspiração


onde eu estaria???

para onde a bolha me levaria???


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TALVEZ CONTINUE

Depende onde a bolha me levar...

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Este post está intimamente ligado aos quatro

anteriores ...

são fragmentos de um mesmo devaneio

abaixo os links

das postagem anteriores


1-http://www.luciahbrasil.blogspot.com/2011/03/perai.html

2- http://luciahbrasil.blogspot.com/2011/03/atualizacao.html

3- http://luciahbrasil.blogspot.com/2011/04/bolsa-de-mao.html

4-http://luciahbrasil.blogspot.com/2011/05/grito-suspenso-no-ar.html


Fique a vontade para lê-los na ordem que quiser...e para relembrá-los ou esquecê-los...

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