sábado, 25 de outubro de 2008

Duvidosas Certezas



Olho pela fresta da janela apenas para ter certeza que a sonora sinfonia que chega aos meus ouvidos não é um sonho.
Chove a cântaros!
Dúvida.
Devo levantar ou seguir deitada!?
Ao meu lado a mochila parece querer dizer-me algo! Quase pronta espera cumprir sua nobre função de pôr-se junto as minhas costas em movimento, por terra ou por céus, para o norte ou para o sul.
Tirando a fúria oscilante da chuva o silêncio reina.
Em meu íntimo como de costume há um certo caos: burburinho de aeroporto em véspera de feriado. Uma conferência de opiniões diante do guichê que me encontro parece querer decidir algo. Basta uma mirada e pronto todos se calam.
Vou viajar sim! Apenas troco o destino e o meio de transporte.
Não queria ir...
E a negação não era de inércia, ao contrário de medo...
E assumir isto é o que me dá raiva!
Medo!
Medo de que meu Deus?
Finjo não entender a resposta que me chega...
Desconverso!

Olhares maliciosos e piadas inconvenientes...
Eu sei que falaria em poucas palavras o que tenho engasgado na garganta como um enorme sapo...
Desconforto geral...
Perguntas que eu me negaria a responder, e pronto...
Para não explodir no momento inoportuno, o sapo daria lugar a um elefante.
Ainda bem que chove...
Certeza...
Eu não devia ir!
Momento inadequado para ser verdadeira ou cínica...
Ser boa atriz é atividade que exerço bem nos palcos, mas não na vida...
E assim mesmo, quero sempre a expressão mais verdadeira...
Melhor viajar...
Fico aqui indo onde não posso neste instante ir!
Opto pela viagem na velocidade da luz de meus pensamentos.
Como se pintasse uma tela, principio a viagem transcendental de sábado chuvoso, colorindo lugares, momentos, e pessoas...
Negação!
Não ...
Vontade!
Como se criasse um novo espetáculo vejo surgir personagens, cenários, palavras, gestos...Toda uma atmosfera vai se formando tendo como trilha sonora apenas as gotas cadenciadas de chuva.
Quem se atreverá a dizer que esta não é uma viagem real de fato?
E tudo, exceto a chuva, da viagem de meu espetáculo particular é perfeita...
Não vou duvidar...
Afinal de contas que certeza temos nesta vida?
Eu ontem deitei certa que hoje iria para o sul...
Bastou o tempo impor-se para mudar minha certeza...
Fica apenas a dúvida se eu de fato não deveria ter ido, e se de fato a viagem que empreendo agora na tela de minhas idéias será certeza, ou dúvida...
A resposta?
Deixo com o tempo...
Ele dirá, seja no correr dos ponteiros...
Ou pelo clima que se formará...
A mim cabe correr os riscos...
Querer!
Certeza e dúvida são dois lados de uma mesma moeda, que eu acabo de jogar no ar...
O rumo que quero já percorre as rotas de minhas idéias. Viaja em meu querer!
E querer é poder...
E não querer também...
A chuva...
Eu não queria mesmo ir!
Eu aguardo...
Me aguarde!
Refaço a mochila com calma!
Deixo o medo de fora!
Libero espaço para as incertezas do caminho!
E hoje sem ir, já fui!

Aquele abraço!

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