sábado, 30 de abril de 2011

Bolsa de mão






Uma roupa de frio outra de calor, roupa social, roupa de banho e peças íntimas.

Uma fotografia e um cristal, como amuletos e companheiros.

Algum espaço para os sonhos...

Já ia me por em movimento, não mais perdida mas certeira no alvo que eu acreditava certo.

Calcei as botas peguei a bolsa e já estava de saída ...quando começou a soprar um vento ensurdecedor...Uma tempestade batia a minha porta, cinza...

não tive medo...

queria mesmo era enfrentar aquele vento de braços abertos e rodopiar na ventania ...louca, desvairada e feliz.

Quando ouvi a voz do computador, a atualização havia acabado.

Já?

E a voz gritava pedindo notícias:

“me fala tudo”

Como que eu ia dizer tudo.

Eu estou de partida! Era só o que queria dizer...

Estou correndo agora alucinada no meio de uma tempestade multicolor ...Como se dançasse a valsa das flores.

Quebrando os obstáculos em forma de nozes pelo caminho.

Respirei fundo...

Uma pequena luz ao canto do computador piscava incessantemente pedindo que recarregasse a bateria.

Que se esvaia.

Os lábios do outdoor gigante agora apareciam numa pequena janela de minha minúscula tela.

E a voz avisando que as atualizações já haviam sido feitas e que eu devia reiniciar o computador ...

E o vento cada vez mais forte ...

Chuva...cinza.

Poeira quase marrom...

Na estrada o vento levantava uma areia de cor que variava entre o ocre e o vermelho ...

Uma janela começou a bater...

E a outra pequena janela se abriu no canto do computador

Pedindo novamente que eu falasse tudo...

Ai que vontade de dizer tudo...tudo mesmo...

Mas o momento ...

a luz seguia piscando

e o vento

e a janela batendo

antes de fechar a janela que continha a mesma propaganda do outdoor de meus sonhos, devaneios.

Percebi que as palavras não estavam mais em francês

Tudo era muito claro

Um raio clareou o horizonte de mim mesma

E tudo lá fora ...

As palavras que me chamavam agora não vinham apenas dos lábios do outdoor minimizado.

Vinham do canto da tela

Eram virtualmente reais?

Eram de quem eu pensava?

“Fala tudo.

Assume a loucura...”

Era isto que eu queria ouvir.

Mas enquanto a voz que me dizia isto,

outra falava de atualizações .

fala também ...

Não assumia sua loucura e seus sentimentos também...

Espaço apenas para desejos...

Trovão

Escuridão

Meus dedos ainda buscaram o teclado

Para que eu sem medo pudesse assumir a loucura

Que havia em mim

Abrir a caixa de pandora

Do lado esquerdo do peito e deixar

A ventania e a tempestade de mim mesma ser a bonança...

Foi quando percebi

Que a pequena luz vermelha

Como num alerta rojo

Ainda gritava com sede

Ou fome

Ou paixão

Que a recarregasse

O computador desligou

Não podia adiar

Tinha que falar

Tudo que estava engasgado

Peguei o telefone

Fora de área

Sem sinal

E uma duas três vezes

Só pude ouvir

Não adia

E dizer

Não foge

E a resposta

Não vou fugir

Ou seria

Fingir

Seguiu a chuva

E comigo um vazio

Uma dúvida

E novamente a espera

E uma confusão

Eu não podia mais adiar

Nem fugir

E nem fingir

Saí assim mesmo

Em meio ao vendeval

Embaixo da chuva

E que delícia

Naquele momento pensar que quem está na chuva é para se molhar.

Confusão ...

E tudo vindo assim junto como gotas de chuva

“eu eu sei que você sabe quase sem querer que eu quero o mesmo que você”

No meio da tempestade

Legião urbana

Embalava

Meu desespero, minha ansiedade,

Mas desta vez algo era diferente...



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CONTINUA


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Este post está intimamente ligado aos dois

anteriores como se fossem fragmentos de uma mesma história

abaixo o link

na ordem de postagem:

http://www.luciahbrasil.blogspot.com/2011/03/perai.html

http://luciahbrasil.blogspot.com/2011/03/atualizacao.html


Fica a vontade para lê-los na ordem que quiser...


Aquele abraço!!!