Falarei hoje da distância!
Não apenas da distância física,
mas em especial da distância que há no que somos e no que aparentamos ser...
Eu tenho pago mais caro na banquinha da praia, na pipoca, no milho verde, na pamonha... e eu até poderia dizer aqui que é por que sou uma pamonha... uma grande tonta...
Mas fazer o que? Se ao chegar no quisoque da praia, a moça olha para minha cara, vê o meu sorriso brilhante, olha para minha barriga que já vem acoplada ao photoshop de revista masculina e pensa que eu sou rica...Resultado: a distância entre o que sou de fato ( mas que odeio afirmar ou assumir: uma artista descapitalizada) não é notada pela vendedora do quiosque do milho verde da praia...
E assim aquela cara de rica, bem sucedida, feliz, turista internacional...faz saltar aos olhos dos vendedores...e se eu estou no meu dia de pamonha, deixo passar e pago, só para não ter que discutir... Afinal o tal olhar distorcido, o pré- conceito da moça da banca do milho verde que em sua esperteza me enxerga extremamente bem sucedida, não deixa de ser um elogio a minha pessoa, não deixa de ser um pensamento positivo para comigo!
Às vezes, a distância,
para alguns
pode até parece que eu sou uma diva,
quase hollywoodiana
daquelas que passa e que um tapete vermelho abre-se:
luz, câmeras, ação
a diva chegou...
e diante dela...
diante da pseudo star...
todo pedido é uma ordem ...
"Ei você! É você mesmo! Hoje é você que quero como amante! "
Um estalar de dedos e pronto tenho todos ali aos pés:
homens lindos,
altos,
baixos,
loiros,
morenos
de todas as idades...
de todas as nacionalidades
querendo beijar meus pés,
mãos
me desejando
em corpo
alma
e pecado ...
E por onde passo tenho um amante
e todos eles interessantíssimos,
e recebo até flores no camarim
e na porta de minha casa
(que sequer tem um endereço que caiba no google, ou no gps.)
Meu telefone não para de tocar
e não são credores, não!
Minha caixa de mensagens está prestes a explodir...
e não foi a operadora de telefonia que enviou!
Mas ao deixar a raiz do cabelo aparecer,
as cicatrizes nítidas se mostrarem,
as verdades nuas e cruas...
pronto!
Sai o tapete da frente,
e com ele a legião de fãs imaginários concebidos por algum fã longíquo,
que através das lentes de seu estonteante par de olhos me poetisa...me concebendo uma verdadeira Star! Talvez louca, mas star... estrela alucinada e brilhante!
A verdade nua e crua é que lá estou eu diante de mim mesma, só em meu mundinho e sem espectadores...
Cabelos em desalinho,
pele das costas espinhenta,
pela necessidade fisiológica de prazeres humanos,
irritabilidade em grau elevado e...
ao invés do pijama de diva de filme ou de garota propaganda de lingerie,
camiseta velha,
óculos... e olheiras infinitas,
perdida numa noite de insônia...
De amante mesmo, só o café, já frio, para suportar a
longa jornada noite a dentro em frente ao computador
a espera de notícias
de nem sei quem
de nem sei o quê!
Aos meus pés
para lembrar que eu não estou só,
parte da minha matilha
da minha verdadeira legião,
a liga dos cães!
Ao aproximar a câmera,
a realidade,
não sou Beth a feia,
mas com os óculos na face,
lábios secos,
desidratados pelo tempo que estou neste romance desenfreado com meu PC,
há até uma certa dor na lombar
que me faz franzir a testa, e deixa rugas de expressão entre as sobrancelhas...
e assim a diva some...
na verdade
a diva nem existe...
ele nunca existiu, ela também é sonho, aparência, imaginação!
Ela é o ego, meu e dos outros maximizado!
A diva, a estrela...
a super star (para ser mais glamourosa)
...
como eu queria ser ela!
Visceral, louca, linda...sexy... avassaladora!
O silêncio do entardecer é cortado pelo eco das minhas dúvidas
de minhas humanas inseguranças
que nada tem de estelar ou divino...
Na solidão,
as muitas vozes que me falam
os muitos amantes que pensam que tenho
a riqueza material que pensam que possuo
tudo é pseudo...
e minha beleza efêmera... fotogenia exarcebada
sou de uma realidade inacessível
aos mais humanos pensamentos
sou a pseudo felicidade personificada
estampada no cartão postal de nome face
de uma pseudo intelectualidade
de uma pseudo sensualidade
de um pseudo educação européia em terras tupiniquins
pseudo sexy
pseudo bela
pseudo latino americana
pseudo aqui só não é a sonhadora
demais tudo em mim é pseudo
e lá no fundo
no entorno
fora os livros que empilhados espalham-se pela casa
por cima dos móveis
fora meus animais de estimação
tudo é imaginário
virtual
ou quase
amantes imaginários
como o eram também os amigos de uma infância distante
coragem imaginária
intelectualidade imaginária
nada existe
há uma imensa distância na bela que aparento, vez ou outra ser,
para aquela que de fato sou
Não sou a elegante da foto
embora seja mais alta e magra que a grande maioria
de minha e de outras idades
não sou feia como na foto da carteira de identidade
nem séria como na foto do passaporte
ou linda como na foto de meu perfil do facebook
Dos amores que tenho em sonho e imaginação
fica o sonho de juras de amor sem fim
cenas cinematográficas
onde tenho
a correr atrás de mim,
como paparazzi,
os melhores takes
captados
por
steadicam,
skycam...
O que corre inexorável atrás de mim agora,
não são os paparazzi
nem o belo videomaker...
O que corre na velocidade da luz
em minha direção
é o medo de não ser o que aparento ser
de não ser o que acho que sou
e busco ser
O medo de ser apenas o sabor que há nesta distância traiçoeira
que há entre
a gostosa de pernas saradas
e olhos claros
para
a
doce artista, romântica
e sonhadora...
O que move-se
são também os ponteiros de um relógio que já não enxergo
(até porque, relógio de ponteiros é já coisa obsoleta)
o que corre
além do tempo
e do tal relógio biológico
e ideológico
são meus dedos magros
no pequeno teclado do netbook...
A maratona é de meus olhos
que de um lado ao outro da pequena tela
insistem em corrigir palavras
como se a vida
os atos
o amor verdadeiro
almejado
sonhado
com todos os cabíveis desejos
pensados e impensados
também pudessem ser corrigidos...
E corre também
à milhões,
nas veias
o sangue indignado
poético
insistente
e forte.
E assim...
fico aqui
perdida
entre meus sonhos bregas
de filha 'quase' caçula
de família 'quase' do subúrbio
'quase'do centro
'quase'pequeno burguesa
'quase'diferente
'quase'tradicional
&
o desejo
cosmopolita
de que um dia serei
uma artista além do que tenho sido
uma louca de verdade
e me mostrarei como uma estrela de brilho próprio
sem ansiedades ou vacilos.
A vontade de compreeder e ser compreendida!
Muito além desta cara de turista rica
vista pelos vendedores de praia.
Muito mais que a diva
da embalagem do sabonete.
Talvez quase igual
a dama que habita
o pensamento masculino que me desvenda
poeticamente
pela lente de seu olhar ...
Sim, um dia, esta distância
que existe
entre a aparência e a realidade
vai diminuir.
De repente até se dizimar...
E neste dia não precisarei mais
ser enquadrada
numa ou noutra
imagem...
numa ou noutra categoria!
No corpo nu de minha constelação
serei eu
em essência!
Apenas eu,
apaixonada como sempre!!!
Às vezes sonhadora como as princesas das histórias infantis,
e até chatinha como elas,
outras como as fortes mulheres da obra de Brecht,
e até um tanto amarga como elas.
Mas sempre delirante...transbordante...
insaciável na busca de uma efêmera fugaz felicidade!
Por agora
me contento com a realidade
ou pseudo realidade
e visto o título de pseudo estrela
me permito sonhar que tenho todos os amantes do mundo
amantes imaginários
fascinantes...
únicos...
e sobretudo
extremamente sinceros
humanos até em seus desejos,
ausências,
transtornos
e obcessões...
Deuses gregos ou romanos da comtemporaneidade.
Poéticos sempre...
e eu não mais poetisa inspirada
mas no centro de seu pensamento
seu desejo mais forte
sua louca inspiração...
Projeção 3D personificada
de seus mais sonhados e secretos pensamentos...
Sem qualquer distância
física ou emocional
o ser e o parecer uma só coisa
em fusão
sem exitação
sem confusão!
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