quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Só você manda em você


Volta e meia eu escrevo ou falo de vozes, de palavras de pensamentos, mas tudo isto se resume numa única coisa: energia. As vozes que escutamos, e que sempre nos acompanham , podem até parecer esquizofrenia, para quem não permite mover-se por seu caminho pelo coração, pela emoção e em especial pela intuição. Para quem não se permite verdadeiramente fazer o que tem vontade.
É claro que não é fácil convencer um monte de pessoas diante de num frenesi de fim de balada, onde os afetos emocionais da gandaia necessária, unidos ao entorpecimento do álcool e a adrenalina proveniente da comunhão com os amigos, de tempos ou de ocasião, ainda estão a flor da pele.
Mas quando a voz bate, dá o aviso, faz-se crucial sucumbir...
É mais ou menos como a vontade indescritível de tomar um caminho diferente num determinado dia e reencontrar alguém que a gente não vê há muitos anos, ou então o imprevisto que nos leva a conhecer alguém especial.
Esta sensação, de mudar de caminho tanto pode levar o nome de pressentimento como de intuição, e é espontânea. E nós também temos que ser.
A espontaneidade é o que faz a vida mais leve. É o poder de escolher-se o que se tem vontade que faz toda a diferença, mesmo quando gera risadas nos outros.
Minha semana começou junto a antigos e novos afetos, na balada, rindo.
Depois veio o lanche na madrugada chuvosa...
As narrativas das histórias da noite que passara.
Eu que passei a noite só dançando, tive de histórias apenas as coisas que observara.
Fui a exceção da regra no final da balada, o motivo do riso. Mas não me incomodei, pois havia alcançado o objetivo a que me proporá: dançar.
Risos e mais risos...
Hora de retornar!
Decidi que tinha que mudar de carro. Não quis embarcar no carro do garoto que me conduzira da boate até a lanchonete.
O cruzamento de uma esquina logo adiante me deu a resposta...
O sinal vermelho de madrugada ainda piscando.
Na preferencial o ônibus...
Pela rua o carro.
No cruzamento: colisão.
Meu pensamento: eu fiz a opção certa.

Nada grave!!!
Mas o impacto de um acidente sempre fica, e para quem o vivencia na pele permanece por alguns dias.
Mesmo tendo mudado de carro o envolvimento foi inevitável e assim quando o dia amanheceu de fato,eu já tinha andado no carro da polícia e presenciado o triste amanhecer nos corredores de um hospital, o caos da saúde pública brasileira, pessoas no corredor, soro, tosse, gemidos. E eu a acompanhante do motorista do carro que me neguei a entrar. Discussão com um médico prepotente. Minha respiração diafragmal controlada no ar sufocante da emergência do hospital. Próxima parada delegacia. Depois o passeio de táxi para entregar o acidentado em casa e resgatar minha mochila. E assim o fim de semana fundiu-se com o início da segunda feira...
No ônibus agradeci a Deus por ter me avisado para não entrar naquele carro, rezei pelas pessoas do corredor do hospital, pelos doentes físicos, mentais e espirituais... Pelo médico antipático e por seus pacientes. E pedi luz a todos.
A chuva fina passou para dar lugar ao sol, como se Deus me dissesse:
‘Aí está a luz que parte do teu coração para iluminar o início da semana. ‘
Comecei então a reparar nas pessoas que subiam e desciam do ônibus, e os guarda-chuvas que carregavam. A seriedade de umas, a preocupação de seus rostos, suas posturas, seus olhos de sono.
Infinitos mundos e histórias...
‘O cobrador’, era uma garota bonita de olhos tristes, ou cansados, não sei ao certo. Brincos de borboleta... Peguei carona nas asas das borboletas de seus brincos e voei...
Quando ia observar o motorista, meu olhar pousou na marca do ônibus: Marcopolo...
E na manhã de raios de sol dourados, meus pensamentos pegaram outro rumo...
Embarcaram nas rotas de Marco pólo...tempo e espaço...paciência, sono...
Adormeci...

E assim a semana iniciou!!!



Para você que me lê:
Atenção aos cruzamentos, aos semáforos vermelhos do trânsito e das esquinas de seu pensamento! Cuidado com as preferenciais. Quem vem pela preferencial pode lhe destruir!!!
E se algo estiver em alerta no seu íntimo... Não vacile!!! Mesmo que lhe digam o contrário, só você pode mandar em você!!!
Aquele abraço!!!



segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Corazón espinado


Eu queria criar uma boa desculpa para escrever aqui hoje, mas nem ao menos descobri algo em especial que se comemore neste dia...
Na verdade eu queria ser menos boba do que tenho sido, não só agora, não só na vida de momento, mas na vida toda...
Eu queria verdadeiramente ser um pouco mais objetiva, e bem menos utópica...
Queria ouvir mais e falar menos...
Queria fugir do 'queria'...
e escrever apenas quero...e logo depois do quero: posso!!!

Quando paro para me analisar, me acho a dengosa...e aí vem a imagem da gata miando:

"para de miar Luciá ...fala de uma vez!"

(meu irmão certa vez me definiu assim numa carta:
mia mas não é gato...)

Viu só ser assim tola, enrolada, manhosa, dengosa...faz parte de mim...
e eu nem sei dizer se acho isso ruim ou bom...


Ser a gata!!!

"E aí gata como você tá?"

Dá uma raiva disso...mas antes gata do que cobra,
antes gata do que cachorra!

"minha gata!"

possessivo demais para meu gosto...
mas tão arrebatador, que acho mesmo que melhor é ser gata de alguém do que gata vira lata...mas eu ???

"Fui barrada na portaria sem filé e sem almofada..."

almofada...
guerra de almofadas, é a guerra que vale a pena...
e depois deitar no chão, entre as almofadas para morrer de rir...e rolar ...virar cambalhotas, ver quem consegue ficar mais tempo plantando bananeira sem apoio da parede... e sabe se lá!!!

Acho que é isso que tá faltando no meu estilo gata de ser, o que tá faltando para gata dengosa...
é almofada...

Descobri!!!

Tá faltando almofada na minha vida...
Minha vida tem andado meio tatame!!!
Colchão ortópédico!
NÃO...
me dá até medo...

Rede sacoleja demais!

Mas cama de almofada...é bom demais, por que os motivos que conduzem a cama de almofada são sempre inusitados e passageiros...E, sei lá, me dá sempre a impressão que aquelas coisas que sabemos que são passageiras, rápidas, meteóricas, são as melhores...
Acho que é como o tal barato de lança perfume, nunca testei mas dizem que é assim: dura apenas o tempo de um zumbido no ouvido e tudo fica colorido...
É como a paixão de carnaval...

Terrível constatação: não provei nenhuma nem outra...

Mas não posso reclamar almofadas não faltaram na minha vida:
fofas...pequenas, grandes, coloridas,redondas, retangulares...

Mas há algo que não suporto, me dói de ver!
São aquelas pequeninas almofadas de alfinetes...

Minha mãe confeccionou várias para dar de presente...e me deu uma em forma de coração ...e então fiz o que ela me ensinou que jamais se deve fazer: recusei o presente, que chamei de 'coração espinado'...

Me deu até um negócio, uma dor no peito, senti o sofrimento da almofada (coração) de alfinetes. Tive que conter o choro...
Eu digo; eu sou muito boba!
Animista demais da conta...

Na hora me veio uma música do santana, que dois uruguaios perdidos no Rio de Janeiro cantavam dentro do ônibus 107 numa manhã de sol...

"ah ah ah corazón espinado! "

No dia seguinte ainda me dei ao trabalho de arrancar todos os alfinetes de todos os corações, que minha mãe fez...
E fiz ela prometer que não faria mais almofadas, em formato de coração, para espetar alfinetes.
Ela riu...

Eu até acho graça desta maneira infantil e imatura que tenho de olhar para certas coisas...
Tem dias que odeio esta mania que tenho de poetisar tudo!
Mas eu sou assim mesmo, extremamente boba...

As vezes a mínima coisa pode ter a força de um alfinete gigante, em meu bobo coração!
E dói! Eu supero é claro ...mas, fica a cicatriz, fica a dúvida:
Será que eu é que sou sensível demais a tudo, a todos...ou a vida é assim como um alfinete pungente?
O pior é que sei que meu coração não é forte como a almofada de alfinetes da Dona Maria!

Acho que mesmo ele sendo a razão da minha genialidade (ou pseudo genialidade)
não suporta não ser ...
Mau coração não suporta o alfinete sem gemer ...
E não sei quem foi que disse que coração apaixonado tem flecha de cupido...
não, não e não ...

Coração apaixonado é iluminado, brilhante!
Sensível sim!
Mas não me venha com esta hipócrita idéia da dor de amor,
da flecha,
do alfinete!
Com a justificativa
que mulher gosta de sofrer
que coração que ama sofre.


Amor não é alfinete!
Amor é almofada!
Guerra de almofada!
É rolar entre almofadas...
como gatos...

"um dia gatinha manhosa eu prendo você no meu coração..."


Coração de almofada, por favor! Para que eu possa me acomodar, deitar e rolar.

Tá aí ...acho que dia 3 de novembro deveria ser o dia mundial da almofada...

Almofada para gatas e gatos manhosos!!!

Isso é maravilhoso, mesmo eu tendo consciência de que o que eu queria era me livrar da imagem da gatinha,
da manha,
do miado!

Talvez melhor fosse ser a onça,
ou

"a tigresa de unhas negras e iris cor de mel ..."

Poderia dar lugar a algum coração espinado que quisesse para mim cantar...

"uma mulher uma beleza...que me aconteceu"...

para ser sincera acho até que algum dia alguém cantou isso para mim ...
passado longínquo
tolices adolescentes
a música é êfemera
não se sustentou com o tempo
passageiro
como cama de almofada
de férias
para visita inusitada

tempo ...

O que sei é que como sempre, não disse o que queria dizer...

E lá se foi um pedaço de tempo ...

Almofada do meu viver...

Aquele abraço,
aconchegante como almofada...