quinta-feira, 6 de junho de 2013

De Areia



Madrugada...
Olho da janela a noite quieta.
Ar parado! 
Há uma atmosfera diferente! 
Daquelas que faz até o vento adormecer! 
Silêncio...
Vejo que alguém acena do outro lado da rua... 
A noite fica ainda mais quente... 
Há uma luz sutil do poste...
Mais outro aceno e é como se eu visse tudo mil vezes mais claro... 

Um instante e a janela não mais existe...
como se eu fosse sugada 
pelo zoom de seu olhar oblíquo
por uma força arrebatadora inexplicável! 

Estamos lado a lado...
Eu disse que ele poderia me chamar a hora que fosse.
Penso que ele está com problemas... 
mas ele me parece trânquilo
me revela que vê tudo com maior consciência agora...
Quero entender de que tudo ele me fala...

A calmaria do vento anunciava já antecipadamente que algo inusitado aconteceria.  

"Estou meio bêbado." 

diz ele enquanto se joga de braços abertos na areia.
seus grandes olhos grandes... 
tão brilhantes quanto as estrelas do céu
olham longe eu percebo
e por um breve instante quase me sinto uma das estrelas 
que seu olhar busca.

Sorrio... pensando no parodoxo que há em estar 'meio' bêbado...
existem coisas que não cabem na metade de si mesmas,
meio bêbado é uma delas... 
Eu já havia percebido...
ninguém em sã e sóbria consciência chama alguém aquela hora para passear na praia... 

Divaga dizendo-me que agora vê as coisas com mais consciência... 
sua revelação me parece ambígua...
seu ato totalmente insconsciente...
tanto quanto o meu!

Admiro a beleza do momento...
ainda que toda a poesia vivida ao lado de um bêbado possa desmanchar-se a qualquer segundo... 
estou segura que basta o álcool entrar para as verdades saírem. 
um bêbado é sempre efêmero e verdadeiro



não sei ao certo a que se refere e penso que
 eu deveria ter aberto a garrafa de vinho aquela noite mas me detive... 
meu delírio limitado
o máximo que me permito é me ver como uma estátua,  
uma escultura de areia... a compor a paisagem 

e embora esteja quente e ele chame a atenção para a calmaria do ar
apontando para as palmeiras imóveis diante do mar calmo.
Observo a ele e a paisagem como quem olha uma fotografia.
Não preciso que ele me diga mais nada para perceber que ele está saboreando aquele momento.


Tiro as sandálias dos pés calmamente como num ritual silencioso
como alguém que deseja despir-se das atitudes mais mundanas para entrar num local sagrado...
Lhe revelo um de meus mais infantis segredos:

"Sabe que eu amo rolar na areia?" 

Seus lábios se expremem um no outro...e ele dá um sutil sorriso de canto de boca...
um sorriso que ele tem só para mim...
seus olhos grandes
oblíquos novamente
safados
e doces

"é sério!"
repito! 

"sozinha?"
ele dá a tréplica mais do que rápido
e ainda que esteja estático como o ar
há uma ansiedade dissimulada pela resposta que darei. 
Quase um suspense! 
Uma adrenalina... 

"sozinha eu já fiz várias vezes...mas agora estou sentada aqui ao teu lado..."
 Seguro sua mão 
 ou ele segura a minha não sei 
Escuto apenas ele dizer
"agarrada!"
e agarrados como se fossemos um único corpo 
rolamos pela areia
e rimos 
suas mãos envolvem meu corpo
e rolamos para um lado e para outro
atravessamos a praia assim...e voltamos
ao mesmo lugar

somos feitos de areia também
dois brigadeiros no açucar cristal 

sem saber o que dizer falo: 

"posso invadir a paz de sua praia..."

falo da praia... mas quero mesmo é invadir a vida dele 
sei disso embora não seja sincera comigo mesma como um bêbado deve ser... 
e antes que meu estômago possa doer de ansiedade
ele responde:

"sabes chegar sem pertubar!"


tudo é paz
os beijos os mais lentos e silenciosos possíveis
como se não pudéssemos despertar a noite 

 depois de um tempo ...que jamais saberia precisar 
estamos em paz
em nossa praia secreta, sagrada e particular
suas mãos tiram cada um dos grãos de areia de meus pés
coloca minhas sandálias
me puxa pela mão 
nos sacudimos como cachorros 
para tirar a areia do corpo 
e de mãos dadas desaparecemos naquela paisagem

da janela vejo
ele acenar 
está prestes a amanhecer
mas há nevoeiro
que cobre tudo 
vejo sua luz em meio a névoa
e me permito pensar na magia daquela noite
 não o vejo mais
mas sinto que leva consigo
aquela sensação de paz
pela noite
mesmo sem vê-lo
fico olhando-o da janela
a perder-se pela noite quieta.
Ar parado! 
Há uma atmosfera diferente! 
Daquelas que faz até o vento adormecer! 
Silêncio...

















quinta-feira, 21 de março de 2013

O que essencialmente vale à pena



Eu deletei suas fotos do meu PC... Olhava a foto, admirava os 
detalhes especiais de sua expressão me deleitava com as sensações que a fotografia me conduzia e no auge de tais efeitos a excluía... Ainda com a imagem deletada em mente, passava à próxima e repetia o processo... Não o fiz apenas num ato de crueldade ou vingança, ao contrário, apenas desapego... Para deixar a vida andar, o barco seguir; a minha e a da personagem principal das fotografias. A ideia central: entrar no ano novo zerada, digamos assim,  livre do apego que meu coração e meu pensamento insistem em ter por ele...
Depois da longa análise de cada uma delas, das imagens, sentia como se eu acenasse um tchau de dentro do trem, ou da estação. Como se jogasse um último beijo de adeus antes de partir... e depois da humana despedida, clicava no ícone do X vermelho e deletava a imagem de meu computador...
O mais incrível é que, tenho ainda vivos e presentes comigo cada um dos detalhes que amava naquelas fotografias:
-os olhos... Ora vivos, em outras safados... às vezes caídos, como de cachorro sem dono...Em outras brilhantes...
-a curva de sua orelha...isto é impressionante, mas eu me lembro nitidamente da curva de sua orelha, numa daquelas fotos e...
- também o detalhe do cabelo e da ausência deste...
- a dobra do casaco, levemente entre aberto e o estilo despojado de vestir...
- a gola da camisa pólo a contornar seu pescoço e ...
-nas fotos de suas mãos...sim, parece estranho, mas eu tinha uma série de fotos de suas mãos...fotos que ele nem mesmo conhecia a existência e infinitos recortes destas com os mais diferentes tratamentos... Em cores diversas e distorcidas, magníficos  experimentos do photo shop e,  depois da galeria experimental das fotos de suas mãos feitas  serem deletadas,  
passei as fotos em que ele sorria...ah e que sorriso!!! Não posso negar, as fotos em que ele sorria foram dificílimas de serem apagadas... poucas pessoas sabem sorrir verdadeiramente...ele sabe...sorri com alma... e devo dizer que eu consegui...inclusive deletar uma em que uma bandeira tremulava atrás e ele num frio descomunal, fazia uma cara de  doce satisfação,  num daqueles sorrisos onde demonstra-se a serenidade perene do momento sem mostrar os dentes... Aliás, eu estava olhando esta foto quando ele me chamou no bate papo para conversar... Desconversei e demorei para responder! Como se tivesse sido pega de surpresa.Tentava esconder o fato, dissimular o ato! Como uma criança que junta apressada os brinquedos. Como se ele tivesse a capacidade de com seus olhos doces, me vigiar a distância.
Rapidamente selecionei outras tantas fotos suas e enviei numa única remessa para lixeira, claro que dando aquela breve olhadela antes, para humanamente me despedir...
Tudo feito com uma bela trilha sonora, ao som de uma das músicas de seu cantor predileto e que ele nem imagina, virou um hit de minhas noites! (E que faz o céu mais azul ...essencialmente più blu!)
Por breve instante pensei que seria melhor não lhe responder...mas ele insistiu e disse que estava sentindo a minha energia há algum tempo...que me sentia próxima...
Aquela ponta de remorso...
Eu diante da última fotografia...

Respondi:
“É por que eu estou pensando em ti... Detalhadamente...”
No aguardo da resposta, aproveitei para esvaziar a lixeira do PC, para assim não correr o risco de restaurar os arquivos...Estava decidida: eu não podia ficar apegada aquela situação, mesmo sendo ele tão agradável, sua existência começava a me consumir...  
Na janelinha do canto da tela suas doces palavras me fizeram deixar de lado fotos e apegos... Me entreguei ao bate papo, às coisas que ele me dizia, perguntava, sugeria... nosso universo particular de reciprocidades imateriais e impalpáveis... Acabei esquecendo de apagar a última foto,  a única que tenho ainda dele guardada numa pasta em que reina solitária e sorri como se só eu existisse no mundo...
E o que aconteceu é que não preciso nem fechar os olhos ou suspirar quando penso em pensar nele... Instantaneamente é como se abrisse um telão gigante diante de mim, com uma apresentação dos slides das suas fotos, aquelas que deletei... 
Foi um estratégia que usei para me desapegar e que não deu certo! Pois desde então as fotos deletadas me aparecem a todo instante... E mesmo, devo revelar, que mesmo estando off line das redes sociais nos últimos dois meses, na busca de uma mudança de hábito...é inevitável, na hora habitual em que nos falávamos, onde eu estiver abre-se uma janela,  não pequenina como a da página da rede social, mas gigante e, pode parecer loucura, mas sinto ele me chamando insistente... E assim tem sido também como ao longo do dia, de todos os dias, tenho sido perseguida por suas palavras e pelas imagens deletadas e, quando durmo, lá está ele no meu sonho...
Eis minha infrutífera busca de libertar-me do vício de estar on line, de libertar-me do vício que eu acreditava que ele era em minha vida... Viver off line é uma ilusão, assim como todo o apego e todo o desapego...Toda a resistência e toda a desistência...
Estou sofrendo de alucinações constantes com sua imagem, voz, com suas palavras, com sua presença e com a falta de seu calor e, não nego, outro dia cheguei ao ponto máximo da derrocada de meu pseudo-desapego: enviei um sms no meio da madrugada para seu celular para expor a minha carência... Como alguém com ausência de alguma vitamina, de alguma comida, droga, erva ou verdura... Liga para farmácia, para o restaurante e faz uma encomenda... Como quem assalta a geladeira em meio a um regime... Sim, eu sucumbi algumas vezes, acessei o bate papo e o chamei... Sua resposta  com a força de um abraço me fez crer, ainda que em minha ilusão, que não sou a única em crise de abstinência...  É na crise, na ausência...na distância que percebemos o que de fato é essencial. Onde encontra-se o ponto de equilíbrio, o sal da vida... as cores indescritíveis das imagens que são mais do que imagens.
Ah maldita( e bendita) hora em que tive a ideia de deletar de meu PC suas fotos!!! Nem tudo a que nos apegamos precisa ser descartado, deletado...   Gente não é como fotografia... Mas faz-se essencial que saibamos que, alguns raros seres jamais serão meros arquivos de imagens, documentos guardados em pastas... Existem pessoas extremamente especiais que são  como as ferramentas do sistema, não adianta deletar... O sistema não aceita...a memória não vive sem ela...são fascinantes como a bateria da escola de samba... impossível conceber o carnaval da vida da gente sem o samba enredo que elas escrevem em nossas vidas... sem o delírio que elas só por existirem causam em nós e, ainda que o arquivo seja deletado, a escola passe, o carnaval acabe...A batucada perdura junto com o delírio inerente a esta...muito mais que um compacto com os flashs dos melhores momentos, das melhores imagens: vividas, imaginadas, sonhadas e até deletadas... Sim, não existe lixeira para imagens, momentos e pessoas indeléveis... O que sobrevive na ausência, na crise, na saudade...sem extinguir-se, sem perder a força, a luz, o calor é o que realmente vale à pena...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Telepáticos




"As vezes as palavras são desnecessárias."


Ele viu que eu não estava conseguindo dizer nada, e certamente, percebeu o quanto eu estava tensa com aquele momento. No eco que suas palavras faziam em mim ...passei a olhar em volta ...
Percebi a paisagem...e pensei: 

"Nossa realmente, esta paisagem..."

Foi quando ele interrompeu meu pensamento: 

"...linda, não é mesmo?"

"Sim!"- respondi estupefacta.

Ele tinha lido os meus pensamentos... 
Não... bobagem... 
Era óbvio que aquela paisagem era linda, e que eu de olhos brilhantes entregara a ele o que ia em meu íntimo... Olhei fundo nos seus olhos...e voei...fui longe... quando estava perdida no vôo que aquele olhar havia me conduzido... Ouço a voz dele no meu ouvido:

"Vôe,mas não vá muito longe, que eu estou aqui!"

Ele lia os meus pensamentos? 
Era isto...???

Pensei: "- É assim? Pois então vou ler os pensamentos dele também!"

"-E...?"- falou ele.

"E...O que?" disse eu.

"Já conseguiu?"

"O que...?" 

E aquele sorriso com cara de sorriso ...puro, simples, verdadeiro! 

"Ora...saber o que eu estou pensando..."

Então ele revelara, ali ...assim que tinha poderes de entrar sem pedir licença nos meus pensamentos... 

"Não ...agora, não!" - disse naturalmente.

"Não?" - surpreendeu-se ele...

era mentira, eu sabia exatamente o que ele pensava, mas decidi confundi-lo...

"Não!"

"Mas eu pensei..."- disse ele atônito

"Pensou errado..." falei eu enfática...

Percebi uma ruga de preocupação repentina entre suas sobrancelhas... 

"Não acredito!" -Falou seco.

Ele era terrível... sabia que eu estava blefando. 
Fazia calor...e eu estava louca de sede e fome... 
Ele me convidou para ir até a sorveteria.
Como dois  adolescentes.
E incrivelmente leu  a minha humana vontade.
Quando atravessávamos a rua, ele ficou para trás... sem ver,eu sabia...
e mais, sabia em cada lugar que ele direcionava o olhar...
sem me virar.

Ao iniciar a saborear o sorvete ele veio com este papo de novo...se agora eu sabia 
o que ele estava pensando... Não nego que tive vontade de rir ...e até de me irritar... 
E ele percebeu...  Eu decidi então falar: 

"Olha eu não sei o que você estava pensando, mas sei exatamente para cada lugar que direcionou o seu olhar... desde o momento que nos encontramos hoje...!"

Eu achei que ele não ia gostar do que eu falei... mas ele sorriu e ainda completou ...

"- Ah é! E para onde eu estava olhando ? "

Ele queria saber e eu resolvi dizer. Comecei a falar, descrevendo cada direção de seu olhar como que escreve a rota de um barco através de suas coordenadas... Foi quando eu percebi que estava exagerando... Tinha falado um bando de besteiras... Mas ele sorriu... Sim, eu conseguia...e agora mais, ainda sabia...que ele  sabia que eu estava com vontade de beijá-lo...mas não tinha coragem... 

"- O que foi ? " disse docemente ele.

Eu ri: 

"Eu pensei que você estivesse lendo os meus pensamentos..."

Ele também riu: 

"Difícil admitir? Difícil acreditar? 
É no mínimo estranho não acha? "

Como que eu não ia achar estranho, eu diante de alguém que lia tudo o que eu pensava e cada gesto meu, como se farejasse minha alma, e soubesse a cor da luz de cada célula minha... Tive vontade de chorar...chorar de emoção, de medo, de alegria ...sei lá...  Olhei para os olhos dele, e lembrei que eu não tinha feito as unhas, não sei porque...foi quando ele pediu para ver as minhas mãos, e segurou-as firmemente... 

"- E agora? Já sabe o que eu estou pensando?"- falou.

"- Certamente a mesma coisa que eu! " - apenas pensei, enquanto ele me beijava. 

Eu tinha que ir... ele interrompeu o beijo... e falou: 

"- Está na sua hora já? " 

Olhei o relógio...e conclui que, realmente, eu tinha que ir... 

"- Que pena!" pensei enquanto ele falava as mesmas palavras que iam no meu pensamento.

Tive vontade de que ele me sequestrasse... fomos até a esquina e tínhamos que nos separar...depois daquele
papo de pensamentos que dialogavam tão bem. Mais um beijo e ele me revela: 

" - Posso?" 

" - O que...?" - perguntei 

"- Te sequestrar? " falou com uma cara irresistível...que, não nego, quase sucumbi...

"- Eu adoraria...Mas..." eu realmente não podia.

Nos despedimos, num longo beijo, sem  a certeza de que nos veríamos de novo, pelo menos nos próximos dias. Dei três passos e sabia exatamente onde e como ele estava olhando e imediatamente escrevi para ele um SMS: 

"- Sei exatamente onde e como você está me olhando! " 
  
 A resposta quase instantânea: 

"- Você é incrível! Eu fiz de propósito, para ver se você perceberia! E vi que sabia também exatamente o que eu estava pensando!?" 

Sim ...ele tinha razão...eu sabia! E ele sabia, o que queríamos e o que pensávamos... 
Mas não dissemos nunca um para o outro...
só ficamos pensando... 
ali naquele dia e em outros... 

E até hoje ainda não dissemos um para o outro o que realmente sentimos, 
apenas pensamos...
mas eu tenho certeza que ele segue lendo meus pensamentos...
do mesmo jeito que eu leio os dele.


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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Uma parte: reflexo do todo





“Eu amo a tua bunda!”




 Estas foram as palavras que ele me disse em meio a um momento especial... Não vou dizer que não gostei, mas lá estava ela, roubando a cena de novo! E para mim aquilo ainda que parecesse um grande elogio não me fazia extremamente feliz... Eu queria que ele dissesse que amava a mim, sim, eu queria ouvir: 

“Eu te amo! Você é linda! E eu adoro tudo seu! Sua bunda é linda!” 

Mas não foi assim... Contudo, eu não podia nem devia lamentar ou reclamar do fato. 
A maioria das mulheres luta com a balança, com o peso, com a celulite, e eu tinha ali o homem sensacional a declarar-se humanamente a minha bunda!

 O fato memorável passou! Mas não foi esquecido de um todo, até porque é fato sabido que, em nossa sociedade, o corpo sempre faz mais sucesso que a alma... Dias depois ele ainda declarou uma segunda vez seu amor por ela...

E eu? 
Poxa... Eu fiquei mega chateada e ciumenta...Com a maior inveja do efeito que ela fazia nele ... Consolei-me no fato de que já havia ouvido falar que o corpo físico, a beleza, nada mais é que um reflexo evidente da luz do ser. Que refletimos externamente apenas aquilo que somos em essência. E se ela, parte de mim, é bela, eu também sou...
Os dias seguiram, mas sempre chega o dia em que somos tomados pelo ego. E foi justamente neste dia, que meu ego carente, desejando ser afagado deparou-se com um novo elogio do bonitão. Quando ele tocou no assunto, falou da lindeza e admiração que tinha pela tal, eu me indignei! Imaturamente disse que achava que o ser dele não combinava a estes apegos físicos materiais do corpo. 
E por pouco não lhe disse a célebre frase:

"Homem que escolhe suas relações pela bunda, não pode reclamar de ter um relacionamento de merda!”

Sinceramente que merda que eu fiz!

Sabia que este negócio de bunda só podia dar nisto. Embora na minha profissão merda e boa sorte sejam sinônimos. 

Pela primeira vez entrei em choque com ele!
 E iniciei um confronto idiota...
   que para mim era necessário!

Falei que aquilo não combinava com a filosofia de vida que ele levava,  que não fazia parte de uma pessoa tão elevada espiritualmente! E blá blá blá... 

Faltando menos de um mês para a tal data em que haviam anunciado o fim do mundo, eu na companhia do cara com  queria estar, ele me querendo e eu bancando a difícil... querendo filosofar!
Ainda  disse que eu era mesmo difícil, de gênio complicado...

(Isto jamais deve se revelar a um homem que esta em meio a uma explosão de afeto, seja este afeto espiritual ou carnal...  Ainda que ele seja a mais especial e sensacional das criaturas, jamais devemos revelar as fraquezas. Faz-se crucial, sempre pensar no tendão de Aquiles de nossas fraquezas, e nunca deixá-las vulneráveis.) 

Pela primeira vez senti uma ponta de irritação nele, não irritação com ódio... Mas percebi , depois, que estava chateado com o fato.

No desenho que eu havia criado para mim do homem perfeito que habitava nele, achei que ele não podia sempre estar com este papo de bunda. Que ele não podia gostar só de uma parte... Na verdade eu queria fazer ele entender que ele podia ter o todo, não precisava se contentar apenas com um pedaço, ainda que o pedaço em questão, fosse extremamente atraente e perfeito.

Para me desarmar ele me larga sua defesa: 

‘cada parte de nós é infinita, e uma reprodução do todo!’

Eu ao invés de serenar, tomei aquilo como uma cantada barata e irritada lhe respondi:

“Então minha bunda é a reprodução daquilo que eu sou! É isto que você quer dizer?”

Ele respirou fundo...

Percebi sua mirada, forte e intensa como nunca. 
E na mesma hora pude perceber que eu havia agido no ímpeto...Soltado palavras inúteis ao ar, dando energia a negatividade e não enxergando o poético que havia no fato de sua devoção e  amor pelas curvas de meu corpo!

“Sabes bem o que penso. Não pensa só na tua bunda! Eu não quero a 'tua bunda'.O que eu queria era fazer amor contigo...”

Pronto, com aquelas palavras ele me desmontou... 
E o mais sensacional é que disse numa maneira tão incisiva e doce ao mesmo tempo... 
E mais ainda, depois de fazermos amor ele passou a mão nos meus cabelos, me deu um beijo e disse que eu era o seu anjo...

Estava tudo muito perfeito e eu precisava  complicar...

“Eu não quero ser o teu anjo!”

Na verdade eu queria ser bem mais que um anjo...
O paciente homem me olhou com doçura...
Eu perdi o momento de ficar ali no maior Love...
pois queria que ele dissesse as coisas da forma que havia criado em minhas expectativas...
Antes de nos despedirmos,  nos abraçamos centenas de vezes e nos beijamos... 
beijos grandes e longos, daqueles que fazem o chão desaparecer... Não nego que foi extremamente difícil para nós separar- mo- nos naquele dia. 
Antes de ir embora ele me perguntou se eu não tinha nada para lhe dizer. E eu ao invés de dizer que lhe amava, ou adorava sem igual, de gritar que  lhe amava tanto quanto ele amava minha bunda.  Disse apenas que não queria ser o seu anjo.

Dias depois eu meditava em minha quietude sobre os motivos dele ter silenciado e de aparecer com uma garota que não era tão linda
 ( não tinha a minha bunda) 
e nem era tão inteligente, politizada e  espiritualizada como eu. 
Percebi que a culpa era minha, sim, eu havia sido uma idiota...

Se, segundo ele uma parte representa o todo.
E ele havia dito que amava minha bunda!
Ele amava uma parte...
E ao amar uma parte, esta representava o todo.

Logo, ao amar minha bunda, ele me amava...

... só que eu tão cega, nem percebi sua mensagem...

Agora percebo que posso ter deixado passar, o momento...
Apenas por uma falta de pensamento lógico.
Por não me entregar verdadeiramente ao momento que ele me propunha...

Humanamente não paro de pensar, no meu lado anjo
e suas palavras não saem da minha cabeça:

 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”
 “Eu amo a tua bunda!”

                                  

                               Que merda!



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Status: me chama, me ama!


Não é do status quo que estou falando e acho que quem me lê, se aderiu de fato a sociedade tecnológica do mundo atual, saberá bem a que status me refiro! Ao status da rede social...que embora não seja o status quo refere-se a posição que nos colocamos em relação a vontade de falar com aqueles que fazem parte da rede social que estamos inseridos. Falo do status do bate-papo! 
Tenho conversado com diversas pessoas sobre isto e cheguei a conclusão de que somos a sociedade da dissimulação de sentimentos... e a rede social pode ser também vista, segundo meu ponto de vista, como um grande espelho de nós mesmos, muitas vezes melhorado... mas que também permite que falemos abertamente de coisas que cara a cara diante de uma multidão não teríamos coragem de falar.
 O Homo sapiens é o animal da dissimulação, eu perfeitamente mudaria seu nome para Homo  sentimentus dissimulatus. Não dizemos o que queremos... estamos sempre falando através de símbolos e quando somos surpreendidos pelo que queremos recuamos. O sim pode ser talvez, o talvez: quero loucamente...o não: claro que sim...sim, sim, sim...
Nosso status é Co e não quo...Co de covarde! Nos acovardamos diante de nossas reais vontades pelo temor de ser ridículo, pois é mais fácil satisfazer e aceitar o impossível que a sociedade do status quo prega. E não pensem que eu me eximo disto, ao contrário...sou uma dissimulada de primeira no que diz respeito aos sentimentos mais nobres, até porque me conheço e sei bem que quando abro a torneira da sinceridade e dos reais sentimentos não paro mais...que chego a beirar a infantilidade, a pieguice até alcançar a breguice! 
Temos a opção de falar abertamente e temos em nossa sociedade cada vez mais meios para isto e o que fazemos? Ficamos esperando que os outros façam por nós aquilo que queremos fazer por eles...e o outro certamente está esperando a mesma coisa...e assim estar on line e off line não fazem diferença alguma, são dois lados de uma mesma moeda que nem sempre temos coragem de lançar ao ar para definir o rumo a seguir. 
Eu acho que ajudaria muito se além dos status On e Off, ou daqueles em que há a opção de ocupado e ausente, tivéssemos também a opção de uma outra cor, talvez laranja ou magenta para dizer: 

eu estou on line só para você...

meu status é:

 todo seu ... 
 ou
 -sou toda sua!
 -só você pode me ver
(e eu quero loucamente falar com você)
-sou um(a) covarde( fale-me você se não o for)
-me chame que não tenho coragem de chamar
- me chama, me ama...

ou ao contrário:
- não adianta ficar curtindo meus posts pois eu não quero falar nunca mais com você
- você abusou
-não adianta chamar eu não quero falar

e ainda

fale-me agora 
ou delete-se de meu bate-papo 
                                   para sempre... 


ainda assim não estaríamos a salvos de nossa constante covardia... mas poderíamos comunicar um pouco do que vai em nós mesmos apenas por um ponto colorido no canto da tela... e é  esta a questão, o ponto em que habita o status de nossas relações em tempos tecnológicos! 

( saudades de escrever cartas! saudades de receber telefonemas...)

Status: estou off line mas ainda assim lhe envio...Aquele abraço!!! 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Apegos & Desapegos


Que o ser humano se apega fácil não é novidade! Falo aqui do ser humano humano! E eu tantas vezes definida como desprendida desapegada não fugiria a humana regra! Está certo que há muito me libertei de tantas coisas e que já me desfiz inúmeras vezes de todos os móveis de casa para tomar outro rumo! Que vivo dando roupas, calçados, livros...apenas para estar mais leve...apenas para  exercitar o desapego. Que dou até coisas que gosto, pois sempre penso que não há grandes virtudes em desfazer-se apenas do que já não nos serve e daquilo que não mais queremos. O desapego verdadeiro reside em abdicar, largar, doar, deixar partir aquilo que é bom, que ainda serve e que gostamos! Aí reside a tal liberdade! O  fato é óbvio e  é  claro que sempre nos apegamos a algo e alguém, ainda que o objetivo de vida, mais por necessidade do que por vontade, esteja calcado no desapego.
Este tem sido meu exercício, viajar mais leve embora ainda carregue duas bolsas, a de mão e a mala.
Deixei de lado pseudo amizades sem dar ar da graça e pseudos amores inúteis apenas com o intuito do desapego, da liberdade da leveza. Mas percebi que existem pequenas coisas que aos olhos dos meros mortais não tem valor algum e que me apego! Como a foto de meu pai na carteira, a imagem do São Jorge, o livrinho de meditações, os amuletos e as crenças. O nhoque do dia 29. Os papeizinhos e as palavras. As manias, a cultura arraigada. O Samba apegado aos quadris brasileiros que surge quando menos espero num clássico rebolado! A mania de não passar por debaixo de escadas e de sempre sair pela mesma porta que entrei quando vou a um lugar pela primeira vez. São crendices idiotas eu sei, mas que me apeguei nem sei como e não concebo me libertar.O baralho cigano e a pequena imagem de bruxa que carrego sempre comigo e que mesmo em meio a um assalto a mão armada pedi aos ladrões para retirar da bolsa junto com o cristal de quartzo rosa que carreguei durante quase 16 anos comigo...
 A coleção de brincos artesanais que ao longo de anos juntei adquirindo um em cada cidade que passava.
Dei um par de brincos que amava outro dia, a amiga que dividi o quarto. Ela não queria aceitar, mas eu dei a ela justamente por que eram especiais para mim e ela era e é especial na minha vida! Desapeguei dos brincos e me apeguei a ela. Assim como fiz com a bolsa que ganhei no primeiro festival de cinema que participei dei com o maior prazer a amiga que ganhei da vida e que é  mais que um festival.
Mas não acreditei outro dia quando botei a mão na bolsa para procurar meu cristal de quartzo rosa... por hábito de segura-lo forte em uma das mãos todas as manhãs e de tê-lo sempre na cabeceira de minha cama, ou junto as minhas coisas nos muito camarins pela qual passei! O tal do cristal eu comprei numa fase em que decidi mudar, numa fase em que estava apaixonada, não sei se platonicamente ou insanamente, se por alguém ou pela vida. O fato é que sempre tive ele por perto! Ao ponto de um amigo meu dizer que eu era louca de carregar pedra bolsa. Estar em casa era estar com o tal cristal.  E não foram poucos os mares e luares em que o banhei! No ano novo sempre tinha ele comigo e ao dividir meus mais secretos e singelos desejos, conversar ou intimar Deus para agradecimentos ou cobranças...lá estava o cristal!
Poucos foram aqueles que eu deixei ter entre as mãos o tal cristal...na verdade só autorizava as crianças a segurá-lo e apenas por um curto espaço de tempo. Esteve comigo em meio a temores, alegrias e ansiedades. Logo nada mais natural que assim que eu voltasse de viagem metesse a mão dentro da bolsa no costumeiro lugar para colocá-lo no criado mudo! Na força do hábito a que ainda não me desapeguei de um todo...procurei o cristal, antes de filmar as cenas do último fim de semana...apenas para me energizar... o vazio da bolsa me fez gelar... ele não estava lá...bem, eu sabia! E não estava pois tive a coragem de doá-lo!
Talvez seja um ato inconsequente este de doar uma pedra que me acompanhava há tanto tempo! Há quase metade de minha vida! Mas o fiz consciente e segura...e embora tenha me desapegado dele...ainda sinto a falta que ela sente de mim...e isto é bem possível que seja o tal do apego! Tive vontade de perguntar a quem recebeu-a de presente de minhas mãos se tem cuidado bem dela, como está? Mas achei isto tão sem sentido, de um apego tão grande...mas penso que isto seja porque a energia dela ainda permanece em mim tanto como a minha permanece onde agora a pedra encontra-se. E em mim permanece a energia e a presença daquele a quem doei a pedra. Acabei me apegando, não vou negar! Me apegando as suas conversas coloridas e cheias de energia. Tanto que quando está on line e vejo que não fala comigo chego a me sentir fraca...sim é uma fraqueza este ato débil! Esta carência! Mas prefiro ainda me apegar as pessoas e a sua energia do que as coisas, como certas pessoas se apegam a um lugar, a uma máquina aos bens materiais da sociedade contemporânea, apenas a um corpo e suas curvas. Apegar-se e desapegar-se é vital...  ter o equilíbrio para tal também, embora as vezes não estejamos prontos para fazê-lo.  O ato de doar algo a que eu me apegava tanto a alguém sem dúvidas é sim uma necessidade inconsciente de me apegar a pessoa que agora detém o objeto em questão, neste caso o meu ex cristal companheiro.
E eu tão desprendida nunca imaginei que seria tão difícil assim me desapegar de uma pedra. Sim uma pedra! Eu que tenho faltado todos os velórios possíveis com a humana desculpa do desapego. Eu que ao saber que meu pai estava doente implorei de forma escrita na rede social que o desautorizava-o a partir sem antes me ver. Eu que fiz massagem no peito de meu cãozinho de estimação ressuscitando-o várias vezes na esperança de tê-lo um tempo mais aqui comigo...Eu posso saber me desapegar de móveis e de casas, de carros. E posso fingir muito bem que sou forte o suficiente para partir sem chorar... mas minutos antes do trem ou do avião partir dentro de mim secretamente o choro é sempre convulsivo...e eu rezo para perder a viagem...só para ficar mais um pouco... Meu desapego é também pseudo, ilusório e fantástico! Porque quando parto deixo uma parte de meu ser com quem fica... se não deixar dicas e conselhos...palavras...deixo minha energia...de uma forma tão assustadora que me vejo feito uma alma penada acompanhando ainda o olhar e os passos de quem fica! Vejo suas ações e sei para onde aponta seu olhar, caminho ou danço por seus pensamentos ... muitas vezes de forma invasiva e abusiva...sei para onde e como olha, bem como o que pensa e sente. E as vezes seja pela manhã ou pela noite... viajo no cosmo até onde quero estar, e me sento diante de quem quero ver... e faço mantras, orações, e canto canções para embalar os sonhos ou os dias daqueles a quem amo, daqueles a quem me apego! É possível que seja um erro...eu sei ! Pois diz não sei que sabedoria que "onde estiver seus pensamentos, lá estareis."

E agora em meu humano apego como um gênio da garrafa uma parte de mim habita dentro do cristal que parcialmente me desapeguei... e no exercício da vida já descobri que é isto que eu tenho que fazer... aprender a desapegar-me... viver o momento, curtir quem está próximo... deixando o antes e o que virá sossegados enquanto vivo o agora!

Mas não nego ...que neste apegar-se e desapegar-se tenho um mundo de gente bem próxima de mim...
longe dos olhos e próxima do coração... deixo-as lá, comodamente hospedadas...
deste desapego de coração grande eu não quero nem pretendo me libertar...

Desapegar é mudar o hábito...
é troca...
e ao final é muito melhor apegar-se a alguém que a algo...
sem cobranças...as vezes até sem esperança...
Meus desapegos são também apelos ao apego!
E apegar-se a algo ou alguém é também uma forma de desapegar-se de si, do ego...e sair das fronteiras de si mesmo! Ser um pouco o outro doar-se, emprestar-se...

Eu não nego...desapegadamente eu me apego!
E se alguém diz que se apegou a mim...que pensa e sente a minha falta, saudade...ou seja o que for eu comemoro... quem disse que para ser uma pessoa desprendida precisamos abdicar de tudo aquilo a que nos apegamos...de tudo aquilo a que buscamos nos desapegar!?


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Promessas, Santos e assemelhados



Fazer promessas não faz meu feitio. E nunca fui muito adepta daqueles que prometem demais e fazem de menos. Nunca fui amante de quem apenas teoriza e não age na prática. Mas embora tenha certa ojeriza as promessas devo confessar que fiz algumas ao longo da vida e sempre que entro numa igreja pela primeira vez rezo e faço um pedido. E devo revelar que muitas vezes tem dado certo. Mas o tamanho da igreja nada tem haver com a eficácia e rapidez na realização das minhas ansiedades.  Sempre penso que se bem não fizer mal não há de fazer. Já prometi coisas absurdas, não vou negar...e o que me irrita é que se tenho atendido o pedido...me vejo no compromisso , e compromisso até certo ponto é uma coisa que me assusta um pouco, embora sonhe com certos compromissos. Odeio o vôo com hora marcada, viajar com a passagem de volta em dia, hora e local marcados. Este compromisso me horroriza, e não sei se pelo fato de ter desenvolvido uma certa aversão a tal, as coisas com dia e hora marcadas não acontecem. Em especial as passagens de volta. E se marcar a volta, pronto...a paranóia toma conta de mim. Tira meu sossego, me enraivece, entristece, empalidece. E eu não consigo percorrer o caminho com despreendimento sempre que sei que tenho que estar em tal, hora e em tal local...Para que? Ora ...para voltar. Em tempos remotos já escrevi sobre isto, de minha aversão ao backspace, voltar...ah... E certamente este deve ser o motivo que me sinto extremamente melancólica ao término de toda e qualquer viagem...Mas voltando as promessas e aos santos... a primeira vez que fiz isto para valer foi quando um dos meus melhores amigos foi atropelado por uma lancha quando estava mergulhando... Sim um amigo especial, jamais será atropelado por um fusquinha ou por um carro, um amigo especial sempre faz algum esporte de ação, adora aventurar-se nas alturas ou nas profundezas, tem algum hobby ou profissão diferenciada e é muito mais que um amigo...e é óbvio, é atropelado por uma lancha...e seu acidente passa em rede nacional... E como num caso destes não apelar para todos os santos, rezar em todas as línguas possíveis, todas as orações conhecidas e mais as inventadas. Mais ainda ao saber que ele estava voltando do fundo do mar antes da hora porque tinha marcado encontrar-se comigo... Fiz várias tentativas de visitá-lo, mas as visitas eram para os parentes e, amiga não é parente. No dia da visita em que informei que era a prima vinda do sul, enviada de sua mãe...cheguei cedo demais. a mulher do hospital mandou que eu voltasse mais tarde...E eu saí para pegar um ar, dar uma volta e me deparei com uma igreja... uma igreja de São Jorge guerreiro...Lembrei da máxima que a primeira vez que se entra em uma igreja se tem o direito a fazer um pedido, e pronto pedi a São Jorge  quase em lágrimas para que ele não levasse meu  amigo guerreiro! E fiz a promessa... envolvendo ele também, porque amigo que é amigo, faz promessa e inclui o amigo, afinal amizade é isto, compartilhar, alegrias, dores e promessas. Corri para o hospital para não perder a hora, e assim que entrei na CTI, um enfermeira me deu uma tesoura para cortar as unhas dele que estavam num estado deplorável... cara arrebentada, braços... cheio de cortes e curativos...E o pior, deprimido como nunca. Chorando me revelou que tudo que mais queria naquele momento era sair da CTI... Eu havia comprado um anjo para ele e lhe entreguei. Então faça o seu pedido. Terminei de cortar suas unhas, a médica entrou conversou com ele. E no mesmo instante ele foi transferido.  Passei a crer mais ainda nos anjos e em São Jorge e revelo que volta e meia pago alguma promessa extra por conta da recuperação de meu amigo. E acredito em anjos, sereias, elementais, gnomos, Papai Noel mais que em pessoas de carne e osso. Poderia dizer que foi fé, sorte, sei lá. Mas o fato que ele está bem forte até hoje. Comecei a ter cuidado com as promessas, fossem elas para santos, ou para meros mortais. Minha mãe sempre disse que "Ao rico não devas e ao pobre não prometas." Evito contar planos, prometer coisas, mas tento sempre envolver minha fé de um otimismo exagerado... Mesmo diante das mais turbulentas tempestades.  Depois do feito pela vida de meu amigo, achei que todos os santos, igrejas e orixás fariam o mesmo efeito.




Fiz um pedido para Iemanjá no ímpeto das festanças de fevereiro... Aconteceu ao contrário... E como boa brasileira, sou adepta do sincretismo religioso e  caí na burrice de jogar todas asminhas fichas, ou melhor apostar meus pedidos mais íntimos a ela.  Nossa tudo ao contrário de novo. E sendo assim, como hacker, descobri sua senha. Pedidos para ela devem ser feitos ao contrário. Quer um amor? Diga que quer ficar solteira! Quer bastante trabalho? Diga a ela que quer marasmo. Entendi que com ela funciona diferente... ela leva as coisas que pedimos com as ondas do mar em que é  rainha soberana. Mas ainda assim devo dizer que deixei ela de lado... Embora hajam estudos de que a mitológica Vênus, deusa da beleza  e ela correspondam a mesma criatura. E quem fica de mal com ela tende a ficar com um aspecto feio...acho que comigo ainda não fez efeito, tanto quanto não fizeram os pedidos.




Tenho sorte e proteção também com o santo a que meu avô é devoto...e bem, meu vô já está com 92 anos e esbanjando saúde, logo... São Franscisco de Assis tem lhe dado alguma paz para que ele seja também instrumento e portador desta. E como neta queridinha dele ( que minhas primas e manas não se zanguem com o fato) devo dizer que herdei certa credibilidade do santo em questão, não com milagres como o do Santo guerreiro, mas com luz a fazer clara minhas ideias em momentos desesperadores. Acho que ele gosta de mim, e eu percebo seus sinais que são serenos e sutis...e acho que caí na sua graça, não apenas por ser a neta querida de meu avô, mas pelo carinho aos animais. E de um tempo para cá não existe uma casa em que viva que os animais não se aproximem... Pássaros, lagartos, galinhas, bois, mariposas, jabutis... E onde eu ande sempre aparece um cachorro para bater um papo comigo. E devo dizer que a cumplicidade e simpatia com tal santo me traz paz. Quando estive em Roma, nada foi mais gratificante que me deparar com a imagem dele cheia de pequenas velinhas acessas numa pequena e simples capela próxima ao coliseu. Nem o vaticano em toda a sua grandeza, nem obras de arte suntuosas me trouxeram a paz que sua simplicidade por si só inspira.

 Agora devo dizer também que santo é como gente, por detrás de suas imagens existe um universo a ser desvendado...e bem...


...o  universo de Santo Antônio eu ainda não desvendei. Nossa relação é estranha. Quando me deparo com ele é como se encontrasse aquele credor cara de pau. O amigo sacana de cara deslavada. Das simpatias de noite de Santo Antônio,  a letra da casca da laranja, ou a dos papelzinhos embaixo do travisseiro nunca as iniciais reveladas se fizeram presentes no início dos nomes da lista vip dos abençoados seres que foram meus amores... Ele nunca acertou!!!  Ele, segundo meu ponto de vista, assemelha-se um pouco aos políticos...promete e não cumpre, faz só a metade ou envia a mercadoria com defeito...coloca na nota algo de primeira qualidade e envia a mercadoria de quinta, semelhante a 'made in Taiwan", "Made in China". A olho nu e a distância até engana... mas de perto ... ai! Santo Antônio...acho que de repente ele não era santo para este fim, mas deve ter ocorrido alguma coincidência com alguém e ele sem querer ganhou a fama. Pois para achar objetos perdidos ele nunca me deixa na mão, desde que o objeto, não seja um homem. Ele deve ser brasileiro como Deus...só pode! Ele não finaliza, é preciso muita contemporaneidade para entender sua santíssima obra aberta. Ele é um trapalhão... até coloca caras interesssantes no meu caminho...não vou negar...mas se a embalagem for muito boa, é preciso desconfiar... mais ainda quando a propaganda é grande a respeito a respeito de suas qualidades. Ou ele acha que  por minha amizade com São Francisco de Assis, deve me enviar espécies homo sapiens a serem, domados,  adestrados, leões ferozes, pavões misteriosos, galos... e também os hienas, aqueles que adoram pegar as sobras dos amigos leões e urubus,  os que se você não se cuidar te enquadram apenas como um pedaço de carne, ou o que é pior como carniça.
Os enviados de Antônio  ou tem a vida metódica e erudita demais para permitirem uma certa ginga popular em seus dias...(até permitessem sonhar, mas temem...). São aqueles tipos que enviam a declaração praticamente anexada a carta de demissão, a carta de intenção com a de desistência. Nascimento e óbito! Fazendo de possíveis frutíferas relações: nati morto. Ou me faz encontrar com aquele cara interessante que,  lamentavelmente, depois de conversar tantas coisas interessantes, sorrir lindo para mim precisa partir no dia seguinte. E o gran finale...? Esquece, ficamos apenas com o prólogo! Ou faz o gentleman me recordar que, depois do 'é possível', sou eu que tenho uma idiota passagem de volta em mãos com hora e local marcado. Ou ainda pior, transforma o príncipe num chato, lembrando-me a todo instante que eu tenho que partir, que eu tenho que comprar minha passagem, que eu devia voltar antes da hora, que eu já não devia mais estar, que o certo mesmo era eu nem ter vindo, que será um alívio eu ir embora... Por isto que quando encontro Santo Antônio pelo caminho digo como na oração: " 'Tu Antônio onde vais?' Nós temos que conversar...Você não entendeu os objetivos e a justificativa do projeto que lhe apresentei, tá de brincadeira, ou desistiu de ser santo para ser funcionário público?"



 Quanto a São João ...gosto de suas comemorações, mas o que le faz além de fazer xixi na laranjeira para deixar as laranjas docinhas, e converter pagãos em cristãos? Pula quadrilha? Come bolo de fubá... ? É tão contraditório pois sua festa é das mais pagãs que tem. E sempre me põe na dúvida, o motivo pela qual salomé quis sua cabeça! São Pedro eu nem sei o que falar e outros tantos até já esqueci... Gosto dos anjos e dos arcanjos, eles tem paciência comigo e o Arcanjo Miguel já me tirou de algumas encrencas, até mesmo enviar um conhecido no meio do nada e lugar nenhum de uma estrada deserta onde o carro estragou e eu tinha compromisso com hora marcada e não podia me atrasar. Me tirou de cada cilada que se eu tivesse um filho era bem capaz de botar o nome dele em sua homenagem, mas em agradecimento batizei alguns personagens com seu nome em gratidão a sua proteção e devoção a minha pessoa.


Minha irmã mais velha disse que nada disto está no poder dos santos e sim de meus pensamentos... me viu como Santa milagrosa, poderosa... E um cara, outro dia, em que uma criança chorava convulsivamente e, eu com duas palavras a fiz parar beijou minhas mãos como se eu fosse santa. Uma amiga disse que eu serei a Nossa Senhora do Teatro, dos andarilhos, loucos e artistas...
Não acho que tenha vocação para Santa, embora desconhecidos adorem revelar seus segredos para mim,  se um dia chegar meu dia de ser santa, embora odeie fazer promessas, "Prometo ser justa! E cumprir minhas promessas. Começando por esta!" E ainda que Santo Antônio siga aprontando das suas comigo, honrar o mandamento dos mandamentos: "Amar ao próximo como a si mesmo." Inclusive os santos de fama duvidosa.





Alguém me disse, que não se deve falar com santo quando pode-se conversar direto com o todo poderoso. E volta e meia eu intimo Ele, que, como bem sabemos, é brasileiro e tem certa tendência a funcionário público... mas com tantos pedidos e projetos idiotas é preciso compreendê-lo...Totalmente desrespeitado e com um bando de Santos corruptos em seu governo e com uma lei obsoleta como a de um dos seus mandamentos: "Não usar o nome DELE em vão."  mais desrespeitada que a lei seca nas vésperas de eleição. Tá certo, que Ele até certo ponto faz por merecer, seus filhos são um pouco reflexos dele, embora não se possa julgar o pai pelo filho... e vice versa...Eu intimo Ele as vezes e ele dá a resposta rápido, age bem sob pressão, pelo menos a minha...ou talvez seja por que na verdade estamos sempre esquecendo que  "a quem pedir lhe será dado"... ( e meu avô sempre me lembra isto ). Mas devemos lembrar que ele como bom brasileiro, deixa tudo para a última hora, adora uma gambiarra (tem certa tedência egocêntrica de cineasta), certamente toda sexta toma a sua cervejinha,  prefere a praia que os templos, adora correr riscos, certamente é adepto de esportes de aventura e pratica-os no sábado...e num aspecto é como eu, não planeja muito, senão jamais teria criado o mundo em sete dias... E tenho certeza que odeia marcar com antecedência a passagem de volta.