quinta-feira, 22 de março de 2012

O único erro


Ultimamente tenho pensado na vida mais do que o habitual, num exercício de lógica e correção, como uma atriz que ensaia a mesma cena repetindo a exaustão para levá-la a perfeição. Embora eu não acredite nela, na perfeição...não que eu não viva a buscá-la...mas não creio nela como um pódio ou o alto de uma torre, montanha ou escada que se possa alcançar!
A perfeição não é o fim de uma linha, segundo meu ponto de vista, é uma caminhada, onde dia após dia vão agregando-se valores, idéias, coisinhas...pequenos e sutis detalhes...
Não sou perfeita e nunca serei! E sinceramente acho que ninguém o é...e quem julga os outros pela perfeição de suas idéias, engana-se, erra! Também acho que jamais pode haver apenas um único erro, e que o erro nunca é isolado, nunca tem endereço próprio num único indivíduo...e é sempre efeito de tantas causas! Não olho para os erros como dores...mas procuro sempre pensar que o caminho da plenitude, da dita "perfeição",obrigatoriamente passa por ele!

Eu erro e tenho errado, desde sempre e seguirei errando para acertar!

Assim como me perco para poder me reencontrar!

Agora quem me diz que não erra, que acha que a culpa do erro está só nos outros e jamais em si...este sim sucumbiu ao erro ...mas ainda assim o isento de culpá-lo para compreendê-lo.
Com a compreensão os erros dissipam-se, corrigem-se, ordenam-se...e pouco a pouco caminha-se para a evolução! Mas nenhuma destas vias, seja a dos erros, a da perfeição ou a da compreensão existem numa via de mão única...todas são vias de mão dupla!
Faça sua aposta, jogue a moeda para o alto, arrisque-se a errar...
sempre haverá 50% de chances de cair cara ou coroa...
Toda moeda tem seus dois lados, e todo erro jamais é único!

Único é o amor e cada ser humano que o vive!

E quando o erro ou o amor se instauram e as coisas são mágicas,
ou ao contrário: nada são do que criamos com nossas humanas expectativas, devemos sempre pensar que é no andar da carruagem que as melancias se acomodam! E falo de acomodar aqui no sentido de acerto e não no de deixar o marasmo cotidiano instaurar-se.
Se os erros surgem e não buscamos acertá-los, estamos errando em cima do errado!
É como amputar a perna por causa da unha encravada do mindinho.
Se tratarmos os nossos erros e os dos outros assim, nunca vamos acertar, o caminho será apenas o da frustração constante...por que ela virá seja mais cedo ou mais tarde! E infinitas vezes! Se formos rígidos em impor nos outros apenas que sejam aquilo que esperamos deles estamos caindo não num 'único erro', mas mergulhando numa tempestade feita num copo d'agua...
Uma andorinha só não faz verão... e um erro só não pode conduzir a decepção!
Jamais pode ser condenável...Não é na fuga da convivência que vamos nos livrar do 'único erro', não é cortando a mão que vamos evitar que tenham ladrões no mundo, ao contrário, é vivendo, arriscando, errando, e acertando que as coisas que imaginamos vão tomando as formas que queremos...Um pintor jamais tem o resultado final de sua tela na primeira pincelada.
E se ele abandona a tela no primeiro traço, achando que errou...que estava demais...ele jamais terá a obra de arte!
Ironicamente na língua portuguesa usamos o termo "não faça arte"para designar aqueles que arriscam-se em fazer algo que para a sociedade normal não é aceita...
E assim histórias belas terminam antes de existirem, como um leitor que fica apenas com a capa, e a leitura das orelhas do livro, ou quem julga o filme pelo trailer, o espetáculo pelo prólogo, a janta pela entrada.
É por abandonar as coisas no primeiro e único erro, sem insistir o mínimo em suas possibilidades, que o mundo sucumbe a desistência, que talentos incríveis lotam repartições públicas, que artistas viram advogados, e bons advogados militares, e potenciais militares açougueiros...e por aí vai!
Eu não acredito nesta desculpa de que as coisas não seguiram no seu caminho por que um "único erro" surgiu e desviou da trajetórias os fantásticos e maravilhosos personagens por que as coisas não eram como imaginávamos!
Os erros são para serem corrigidos! Para assim virarem acertos, realizações!
As coisas que não são como imaginávamos devemos recriá-las para assim transformarem-se em mais do que podíamos supor delas!
Não acreditem jamais que possa existir um único erro que possa por fim ao amor, a uma carreira, a beleza de todo um caminho que descortina-se! Insistam no acerto! Uma criança erra muitas vezes, e cai outras tantas aprendendo a andar, a dar os passos certos que fazem sua vida caminhar ir adiante!
Aceitem o erro! É ele que conduz-nos a estrada infinita rumo a impalpável perfeição!

E se as coisas em algum momento não forem como você imaginar, permita-se aceitá-las e recriá-las, sintonize-as ao seu modo, na sua estação!
Se for inevitável desprenda-se delas como faço eu agora com estas palavras que estavam presas em minha garganta! E siga adiante!
Ainda que seja atroz, isto também é viver! Faça-o com doçura, sutileza e sobretudo sinceridade...para não sofrer e não causar sofrimento! E se amar verdadeiramente...não caia na burrice de desistir no primeiro erro...uma estrada jamais tem uma única curva... Siga adiante e verá as emoções que o caminho pode lhe proporcionar! Sem medo de errar liberte-se dos seus preconceitos, que acabam por limitá-lo, fazendo com que só se aceite aquilo cabe na sua ideia de sonho, na imagem perfeita!!! Cancele os erros como quem deleta um arquivo... e permita-se reescrevê-lo. Como quem deleta uma fotografia! Permita recapturá-la! A vida, as coisas, as pessoas são muito mais do que a imagem que você criou delas! Tenha sempre polidez para lidar com o outro, pois no universo do erro do outro também podem existir sonhos que sua vã sabedoria jamais ousou sonhar...Exercite o perdão, antes da frustração! O amor antes da discórdia! A compreensão antes da desistência!
No céu cabem infinitas estrelas, no viver infinitos erros!
E para acertar, as vezes é preciso deixar o erro passar! Mas se nada disto servir resta o consolo de que a vida não é um torneio de tiro ao alvo e ao final tudo passa... E assim o erro, a dor e a vida também vão passar! E seguiremos a errar para acertar!

Aquele abraço!!!


sexta-feira, 2 de março de 2012

Hóspede & Hospedeiro - REGRA NÚMERO 1


Antes de qualquer coisa...
não esqueça, em casos de hospedagem em casa de terceiros, sejam
parentes, amigos ou desconhecidos...
leve com você a
REGRA NÚMERO I -

Você foi convidado para ficar 1 mês na casa de um ser humano
que no afã de seu entusiasmo,
e possível encantamento,
vacilou,
querendo inconscientemente parecer extremamente educado e gentil ,
e ainda que este humano ser tenha lhe dito:

"Aqui te espero sempre de braços abertos, e podes ficar o tempo que desejares..."

NÃO ACREDITE...
Isto não é a verdade nua e crua...
isto é só uma verdade poética,
um humano vacilo,
a ilusão de ter perto o que vive distante...

é a teoria...
na prática sempre as coisas são diferentes,
sejam nas lições de matemática e física,
na interpretação de um papel
ou ao viver a vida...

A teoria nunca condiz com a prática...

never
mai
jamás

Lembrando que o fato aqui não reside na confiança que devemos ter nos outros,
acreditar nas pessoas não é de todo mal...
ao contrário
é lindo
num mundo decadente de valores
e consumido por atos materiais
acreditar no ser humano
é mais do que uma prova de amor...

pero...

but

ma

maaaaaaaaaaaaas

a pessoa ao dizer isto não pensou jamais que você seria louco o suficiente para hospedar-se na casa dela por
1 mês
por mais de 1 semana,
por sequer 5 dias,
ou 2
a pessoa ao dizer isto
não pensava nem ao menos que você iria de fato até a casa dela
e se ela mora longe demais de você
o caso é mais grave ainda...
ela não acreditava na pureza de sua loucura
na sua alma de viajante
e menos ainda acreditava
que ainda pudessem existir pessoas no mundo que arriscam ir para casa dos outros após um convite casual...

A pessoa sequer pensou como seria ter você dividindo sua rotina a dela por mais de 24 horas...
por isto...
sempre
a regra número 1 para quem vai hospedar-se em casa alheia é a de que
você é uma lombriga...

Sim,
VOCÊ É APENAS UMA LOMBRIGA...
UM VERME...
você é o hóspede...

você vai dar um gosto enorme a esta pessoa
de adocicar-se com todas as doces guloseimas de momentos convividos ao seu lado

são os doces momentos
que certo existirão
enquanto
você

amiga lombriga

estiver ali,
na casa do hospedeiro simpático
querido
amigo
gentil
solidário...

se todos fossemos gentis hospedeiros o mundo seria outro, não sei se melhor, mas seria outro...

Mas passado este momento ...
o doce momento
em que o hospedeiro sacia-se
com tantos doces e carboidratos da doçura momentânea de sua convivência
de sua cultura exótica ou metódica
de viajante
de hóspede quase acidental
o hospedeiro de você,
cara lombriga...

por uma razão vital
vai querer expelir você de alguma forma...

isto não é de todo mal

pense que você já foi um hóspede no ventre de sua mãe
e para você virar gente
ser o que é
crescer
evoluir
ganhar pernas pelo mundo
até o dia de hospedar-se em habitats alheios

ela teve de expelir-lhe para o mundo

e isto passará também com o seu hospedeiro
ele vai querer lhe expelir
seja com alho ou com vermífugo...

Num mecanismo de defesa
você
mais dia menos dia
irá tornar-se
um corpo estranho
que flutua pelo seu cômodo e egoísta habitat...

Não existe nada mais egoísta neste mundo que o habitat de um animal
seja ele uma ameba
um macaco
um cão
ou você
homo sapiens
que agora me lê!

o território
a propriedade
é o que nos divide

somos donos de manias sem fim
e cada casa tem sua mania
cada bairro
cada cidade
cada estado
cada província
cada país
cada ser humano

e a isto chamamos gentilmente de
cultura

e a sua cultura,
mesmo que você tenha nascido e se criado no mesmo bairro do seu hospedeiro
ela é sempre diferente
você tem um código cultural único por suas vivências
assim como tem um código genético único!

e quando você é a lombriga da questão
você não pode achar que é o Rei dos Animais
uma lombriga é sempre hóspede
e sendo assim não pode querer ser uma rainha
a altura do soberano hospedeiro
que nomearei aqui como faminto Rei Leão
que te tem sob o seu teto

(mais faminto ainda depois da verminose)

Não esqueça que você sendo hóspede não pode jamais almejar ser o rei da floresta!!!

Quando somos hóspedes temos obrigatoriamente que dançar segundo a música
ainda que a música
seja:

"ai que eu te pego... te pego ... te pego..."

ou

o
famigerado

"crew, crew, crew, crew, crew, crew..."


E ao dançar ...ainda que o ritmo seja caliente
enlouquecedor
é preciso fazê-lo sempre com cautela...
e doçura...
a doçura das lombrigas...
o jogo de cintura das lombrigas...

afinal você é uma lombriga e não uma solitária tenia solium!
você faz parte deste todo! E ainda que sutilmente deve revindicar o direito de expressar a sua doçura...


O melhor é ser prudente e retirar-se antes que seja necessário,
antes que o hospedeiro precise usar um vermífugo...

retire-se naquele momento em que ele,
o hospedeiro,
sente que seria ótimo
você passar a vida toda ali ao seu lado
com todas as suas manias
com todos os seus defeitos lombrigóides

sejam elas a do banho diário
ou da quantidade exagerada de açúcar no café

retire-se a francesa
ou numa humana despedida
de sorriso desajeitado
abraço desencontrado
pela falta de convivência
de melancias que já acomodaram-se na carruagem

ou

retire-se em grande estilo
com direito
a beijos molhados
sem fim
na estação

Mas
RETIRE-SE
RETIRAR-SE
é crucial !!!


E faça sempre o possível,
mesmo que sejas uma estrela,
para que seu hospedeiro
não perceba
que você
podia ser um verme...
...
assim
ainda que você deixe a descarga correndo
(por descuido ou falta de prática
a hábitos diferentes dos seus)
ainda que você
deixe a calcinha no banheiro
não como um ato de demarcar território
mas por uma questão de sua higiene de educação nos trópicos...
e fique diariamente de pernas para o ar
para exercitar seu corpo
ou meditar...

o hospedeiro
não vai nem sentir...
que a estrela era um verme...

e que vermes e estrelas
são tudo uma só coisa
mas apenas vistos de um ponto diferente...

Ao final se sua estadia
não for nada boa
pense
que hoje você é hóspede
mas amanhã poderá ser hospedeiro...

e assim como existe um dia da caça
e outro do caçador

sempre haverá
um dia em que nos hospedarão
e dias em que hospedaremos

existe o dia do hóspede e o dia do hospedeiro

e é assim que vamos vivendo
evoluindo,
viajando,
hospedando,
e sendo hospedados...

mas a menos que queira ser visto como verme
e não como estrela
não esqueça
que as regras do jogo
podem sim mudar
depois que a bola já rola no gramado..

e para isto nada melhor
que viver
pois é vivendo
que se aprende a jogar

...
deixemos as faltas
e os cartões vermelhos para outra postagem...


e hoje pensemos que somos estrelas...
pois de vermes
e de autoritários hospedeiros leões
o mundo está cheio
e nós viajantes
não estamos isentos de topar com eles
e até mesmo de vez ou outra
sermos um deles...

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